Número de estudantes que saiu neste primeiro semestre com quebra de 71%. Há instituições que optaram por não receber discentes, para já.
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"Podia ser a pior altura para fazer Erasmus, mas revelou-se a melhor". Assim o diz Ana Isabel Teixeira, a frequentar o 1.º semestre do 3.º ano de Design de Comunicação na Academia de Artes da Letónia. Com 21 anos feitos ontem, Ana integra o escasso lote de 1509 alunos nacionais a estudarem numa instituição de Ensino Superior europeia ao abrigo do Erasmus+. Numa quebra de 71% face a igual período do ano passado. Números nunca vistos e que têm na pandemia a sua explicação, que veio pôr um travão à mobilidade estudantil.
Ao JN, a nova diretora da Agência Nacional Erasmus+ desmonta os números, ainda provisórios. A um total de 7071 candidaturas para o 1.º semestre que agora se iniciou (menos 16% do que em 2019) corresponderam apenas 1509 saídas (incluindo mobilidade de estudos e estágios). "Apesar da vontade de sair acabaram por se retrair", diz Cristina Perdigão. Ao medo das famílias em ano de SARS-CoV-2, juntou-se o facto de, "por causa da pandemia e dependendo da zona geográfica ou de condições específicas de funcionamento, algumas instituições de Ensino Superior, em toda a Europa", terem manifestado "o propósito de não receber estudantes em mobilidade Erasmus+, durante o presente semestre", detalha a ex-vice-presidente do Politécnico de Lisboa.
30 mil milhões de euros - o dobro face ao último programa - era o orçamento previsto para o próximo Erasmus (2021/27). Bolo agora em revisão devido à pandemia que obriga a transferir verbas para a retoma económico-social.
Mas foi precisamente nessa geografia que Ana, aluna da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, encontrou o seu maior aliado. "Foi uma escolha muito acertada, porque nunca houve aqui, na Letónia, um impacto semelhante ao que tivemos em Portugal. Às vezes, tenho que pesquisar que há uma pandemia a acontecer". Aquele país, refira-se, conta, até agora, 1868 casos e 37 óbitos.
Geografia que alterou também o ranking dos países recetores. Se, no ano passado, 14,1% rumavam a Itália, agora essa proporção não chega aos 10%. Espanha e Polónia continuam a responder pela maioria, com 15,7% e 13,5%, respetivamente, juntando-se-lhes agora a República Checa e a França (ambas com 10,4%).
Entradas caem 39%
Já no que às entradas de estudantes europeus nas nossas instituições concerne, o impacto é menor, com um decréscimo de 39%. Ao todo, neste 1.º semestre, Portugal vai acolher 5199 estudantes, a sua quase totalidade em mobilidade de estudos.
Expurgando a pandemia, o balanço deste programa de mobilidade, nas palavras da sua nova diretora, pauta-se pelo "sucesso". Lançado em 2014, até ao ano passado tinha permitido a 55 662 alunos portugueses creditarem os seus estudos lá fora. Mas, frisa Cristina Perdigão, mais do que os números, "a consciência que ganharam do espaço europeu como espaço único para estudar e trabalhar".
Para o que lhe sucede - 2021/27-, estavam reservados 30 mil milhões de euros, orçamento agora em revisão devido à covid-19.
Mais de 55 mil
Entre 2014 e o ano passado, 55 662 estudantes portugueses entraram em mobilidade através do Erasmus+. Daquele total, 73% foi em mobilidade de estudos e os restantes em estágios.
Nova diretora
A Agência Nacional Erasmus+ conta com uma nova diretora, na sequência da aposentação da anterior. Cristina Perdigão soma 30 anos de docência no Instituto Politécnico de Lisboa, onde durante oito anos assumiu a vice-presidência. Internacionalização e Direito Europeu são os seus pratos fortes.