<p>O apoio a medidas contra a prática do aborto e a defesa do casamento heterossexual marcaram hoje, quinta-feira, em Fátima, o discurso do Papa Bento XVI no seu encontro com agentes da pastoral social. O discurso do Papa, que tocou precisamente em dois dos principais temas fracturantes em Portugal, foi ovacionado pelas nove mil pessoas presentes no encontro que decorreu na igreja da Santíssima Trindade.</p> <p> <a href="/Dossies/dossie.aspx?dossier=Papa%20Bento%20XVI%20em%20Portugal">Veja aqui o Especial Papa Bento XVI</a> </p>
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O Papa exprimiu "profundo apreço a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que procuram lutar contra os mecanismos socio-económicos e culturais que levam ao aborto e que têm em vista a defesa da vida e a reconciliação e cura das pessoas feridas" por aquele drama.
Por outro lado, e perante a assembleia constituída por perto de nove mil pessoas, defendeu "as iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concepção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher".
Estas, segundo Bento XVI, "ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum".
As duas pequenas referências a temas fracturantes na sociedade portuguesa, mereceram aplausos imediatos da assistência e foram o momento forte de uma intervenção em que o Papa reconheceu a acção das instituições católicas no sector social.
"Cientes, como Igreja, de não poderdes dar soluções práticas a todos os problemas concretos, mas despojados de qualquer tipo de poder, determinados ao serviço do bem comum, estais prontos a ajudar e a oferecer os meios de salvação a todos", frisou Bento XVI.
O Papa sublinhou, na ocasião, que "o cenário actual da história é de crise socio-económica, cultural e espiritual, pondo em evidência a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da mensagem social da Igreja".
Após o encontro, Bento XVI regressou à Casa Nossa Senhora do Carmo, onde está instalado nesta visita a Fátima e onde, dentro de pouco tempo, se reunirá com os bispos portugueses.
"Palavra profética" em tempo de crise
No início do encontro que começou cerca das 17 horas em Fátima, o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social pediu ao Papa uma "palavra profética" num tempo carregado de problemas sociais como a "pobreza inumana, desemprego crescente, domínio de gente sem uma rota espiritual".
Carlos Azevedo apelou a Bento XVI para que "renove os apelos de Cristo Bom Samaritano". "Retire-nos do fatalismo que acomoda e convoque-nos para uma compaixão que dignifica, para uma ternura que cuida, para uma escuta que valoriza, para uma esperança que acompanha", apelou o bispo auxiliar do patriarcado de Lisboa e que é também o coordenador da visita papal.
"Neste momento crítico que a humanidade vive, insegura sobre o futuro, queremos agradecer a clareza com que nos propõe a dimensão pública e política da caridade, como nos ensina que a procura da verdade se apoia no amor e nos convida a todos para sermos 'cooperadores da verdade'", disse Carlos Azevedo.
A anteceder a intervenção de Bento XVI no encontro, o bispo português, "neste momento crítico que a humanidade vive, insegura sobre o futuro", agradeceu ao pontífice "a clareza com que se propõe a dimensão pública e política da caridade, como ensina que a procura da verdade se apoia no amor e convida a todos" a serem "cooperadores da verdade".
Fátima recebeu meio milhão de pessoas
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, referiu a presença de 500 mil pessoas, dentro e fora da esplanada do Santuário de Fátima, durante a manhã de hoje.
Na conferência de Imprensa que se seguiu à celebração da missa e à procissão do adeus, Federico Lombardi afirmou que, de acordo com estimativas do santuário, na esplanada do recinto estiveram entre 350 mil a 400 mil pessoas a assistir à missa que encerrou a peregrinação internacional de Maio, este ano presidida por Bento XVI.
No final da missa celebrada no altar que se situa junto à catedral, Bento XVI esteve a rezar junto dos túmulos de Jacinta, Francisco e Lúcia, tendo-se encontrado com a postuladora da causa da canonização de Jacinta e Francisco, disse o porta-voz.
Perante milhares de peregrinos, Bento XVI disse que "na Sagrada Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima".
O Papa recorreu às "Memórias" da irmã Lúcia para enquadrar esta afirmação, lembrando quando "Nossa Senhora pergunta [aos três pequenos pastores]: 'Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele mesmo é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?'"
"Com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo, veio do Céu a nossa bendita Mãe oferecendo-se para transplantar no coração de quantos se Lhe entregam o amor de Deus que arde no seu", disse o Papa.
Perante uma assembleia com muitos jovens, que ao longo da manhã não se cansaram de fazer a festa, Bento XVI evocou o exemplo dos beatos Francisco e Jacinta Marto e da Irmã Lúcia, lembrando que "então, eram só três, cujo exemplo de vida irradiou e se multiplicou em grupos sem conta por toda a superfície da terra, nomeadamente à passagem da Virgem peregrina", votando-se "à causa da solidariedade fraterna".
"Exemplo e estímulo são os pastorinhos, que fizeram da sua vida uma doação a Deus e uma partilha com os outros por amor de Deus", disse Bento XVI, acrescentando que "Nossa Senhora ajudou-os a abrir o coração à universalidade do amor".
"De modo particular, a beata Jacinta mostrava-se incansável na partilha com os pobres e no sacrifício pela conversão dos pecadores. Só com este amor de fraternidade e partilha construiremos a civilização do Amor e da Paz", frisou.
"Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade", desejou ainda Bento XVI.
482 doentes benzidos no final da cerimónia
Durante a bênção dos doentes - um dos momentos marcantes das grandes peregrinações à Cova da Iria -, o Papa afirmou que "as fontes da força divina jorram precisamente no meio da fragilidade humana".
"Com esta esperança no coração, poderás sair das areias movediças da doença e da morte e pôr-te de pé sobre a rocha firme do amor divino", disse Bento XVI dirigindo-se aos 428 doentes que os serviços do Santuário acolheram para esta bênção.
"Poderás superar a sensação de inutilidade do sofrimento que desgasta a pessoa dentro de si mesma e a faz sentir-se um peso para os outros, quando na verdade o sofrimento, vivido com Jesus, serve para a salvação dos irmãos", afirmou o Papa, num dos momentos finais da principal eucaristia principal da peregrinação do 13 de Maio ao Santuário de Fátima.
No final da eucaristia, o Papa saudou os peregrinos em várias línguas, sublinhando o "conforto" que buscam em Nossa Senhora de Fátima.
Depois de saudações em francês, inglês, alemão, espanhol, italiano e polaco, Bento XVI deixou a língua portuguesa para o final.
"Queridos peregrinos de língua portuguesa, sob o olhar materno de Nossa Senhora de Fátima, saúdo a todos vós que aqui viestes dos vários países lusófonos à procura de conforto e de esperança", disse.
"Dando-nos Jesus, Maria é Maria é a verdadeira fonte da esperança. A Ela vos entrego e acompanho com a minha bênção", terminou Bento XVI.
Foi a segunda missa que o Papa celebrou em Portugal, depois de na terça-feira ter reunido mais de 80 mil pessoas no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Durante a tarde, Bento XVI encontra-se com as organizações da Pastoral Social, na Igreja da Santíssima Trindade.
Cavaco Silva: “Está a correr muito bem”
O pesidente da República disse hoje, à entrada para o recinto do santuário de Fátima, que não está surpreendido com o entusiasmo dos portugueses. "Espero que os portugueses escutem a mensagem de bondade e de profundidade que o Santo Padre tem deixado", afirmou Cavaco Silva, recordando as palavras de esperanças que têm sido deixadas por Bento XVI.
O chefe de Estado, que assistiu à missa presidida pelo Papa, garantiu que a viagem de Bento XVI a Portugal "está a correr muito bem". "Tenho estado a acompanhar em permanência a visita e segundo informações que disponho ela está a correr muito bem", afirmou.
Bento XVI agradece “mão invisível”
Depois de dois dias em Lisboa, Bento XVI chegou ontem, quarta-feira, a Fátima e escolheu evocar à chegada o Papa João Paulo II, que visitou o santuário três vezes.
Na Capelinha das Aparições, o Papa "agradeceu a 'mão invisível' que o libertou da morte" no atentado de 1981, em Roma.
Já durante esta viagem, o Papa recuperou a interpretação a terceira parte do chamado "segredo de Fátima", defendendo que afinal não se esgota no atentado contra João Paulo II, em 13 de maio de 1981, mas anuncia "sofrimentos da Igreja".
A bordo do avião que o levou até Lisboa, foi o próprio Papa a aludir à sua apresentação da terceira parte do segredo, no ano 2000, quando era cardeal, frisando agora que "só no curso da história podemos ver toda a profundidade de que (se) reveste esta visão".