O tema dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica é um tema dominante na abordagem da imprensa internacional à presença do Papa Francisco em Portugal, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, que também destaca a guerra na Ucrânia, a necessidade de uma “via criativa para a paz” e a situação ambiental.
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“O Papa Francisco chegou a Portugal para assistir à Jornada Mundial da Juventude com um escândalo de pedofilia como pano de fundo”, titula o diário “El Clarín”, da Argentina, a pátria do jesuíta Jorge Mario Bergoglio, 86 anos, antigo arcebispo de Buenos Aires, eleito chefe da Igreja Católica há uma década – em 13 de março de 2013.
Na sua edição em linha, o jornal destaca que o Papa “pediu políticas que ajudem a proteger o meio ambiente e a garantir o futuro aos jovens, acossados pela falta de trabalho e pelo aumento do custo de vida”.
“Há muitos fatores que os desanimam, como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que estão imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade em concontrar habitação e, o que é mais preocupante, o medo de formar uma família e trazer filhos ao mundo”, salienta.
O jornal dá destaque à expectativa de que o Papa “se reúna em privado com sobreviventes de abusos” sexuais e recorda que “os bispos portugueses foram amplamente criticados pela sua resposta inicial às descobertas de uma comissão independente, que informou em fevereiro que pelo menos 4 815 meninos e meninas foram abusados no país desde 1950”.
O diário francês “Le Monde” também destaca o assunto da pedofilia, notando que “Francisco poderá aproveitar para abordar a delicada questão da pedrocriminalidade na Igreja, seis meses depois da publicação de um relatório choque” da referida comissão, que descreve os “atos dissimulados pela hierarquia da Igreja de forma ‘sistemática’”, e recordando que o Papa deve encontrar-se em privado com vítimas de agressões sexuais.
O jornal “arranca” a sua narração dos primeiros momentos de Francisco em Lisboa com o apelo à Europa para que “construa pontes” para a paz na Ucrânia, interpelando mesmo a vocação de navegadores como a dos portugueses com a pergunta: “para onde navegas tu, se não propões itinerários de paz, vias criativas para pôr fim à guerra na Ucrânia?”.
O diário italiano “La Reppublica” insiste na ideia, salientando, na abertura da sua reportagem, que o Francisco “exorta a Europa a encontrar uma via criativa para por fim à guerra na Ucrânia” e que, “desde ‘a capital mais a Oeste da Europa continental’, auspicia ‘um multilateralismo mais amplo do que apenas o contexto ocidental’”.
O quotidiano do Vaticano “L’Osservatore Romano” sintetiza, no título principal, a ideia de um papa “peregrino da esperança em Lisboa, cidade do encontro”, como o próprio escreveu no livro de honra da Presidência portuguesa, enfatizando também o sonho de uma Europa “que inclua populações e pessoas” e a “via criativa para a paz”.
Já o espanhol “El País” destaca como “chaves” da visita o “gesto para com as vítimas dos abusos e a fuga ao eurocentrismo”, lembrando que, como Papa, o arcebispo Bergoglio assumiu claramente as diferenças com o seu predecessor, Bento XVI (Joseph Ratzinger), com críticas ao neoliberalismo económico, a defesa do clima e pela “transformação mais radical que está a impulsionar dentro da própria Igreja”.
Mais conservador, o também espanhol “El Mundo” espera que a guerra na Ucrânia, a ecologia e a justiça social, assim como “o delicado tema da pedofilia na Igreja” sejam desenvolvidos por Bergloglio, “cujo estilo direto e espontâneo é muito popular entre os jovens”.
“Regressarei rejuvenescido”, titula o diário católico francês “La Croix”, citando o Papa, na reportagem da 42.ª viagem de Francisco, que surgiu perante os jornalistas, no avião entre Roma e Lisboa, “sorridente e fatigado”.