Ao bom estilo popular português, diga-se que o papa Bento XVI meteu a "pata na poça" quando libertou da excomunhão os quatro bispos ordenados pelo arcebispo Marcel Lefèbvre.
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A sua carta aos bispos, depois da polémica que gerou, obriga o Papa a emendar a mão. Como diz o director de "L'Osservatore Romano", Giovanni Maria Vian, é "um texto apaixonado e sem precedentes", com o bom propósito de restabelecer "a paz na Igreja". Também o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, reconhece que se trata de "um documento pouco habitual e digno da maior atenção". O Papa mostra-se agastado com as críticas dentro e fora da Igreja. O seu louvável gesto de misericórdia não acautelou a pertinácia dos bispos lefebvrianos em recusar o magistério do Concílio Vaticano II e não teve em conta que um deles nega o Holocausto que vitimou seis milhões de judeus. Entretanto, como dá conta o Papa, os seus "amigos judeus" já ultrapassaram o "caso Williamson" (bispo lefebvriano inglês que nega o Holocausto). Bento XVI tem a valentia de não fazer bodes expiatórios os seus colaboradores mais directos e assume a má comunicação da sua misericórdia quanto aos excomungados. Para a história, fica a dureza da censura pública do Papa aos que o criticaram na própria Igreja Católica e o seu reconhecimento dos erros cometidos por si ou pela sua administração.