A saúde mental, os abusos de crianças, a solidão, a guerra, a precariedade laboral e o desemprego foram algumas das “fragilidades da sociedade que afetam os jovens atualmente” abordadas durante a via-sacra, uma prática católica na qual se revive em oração os 14 momentos das últimas horas da vida de Jesus.
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A celebração juntou, esta sexta-feira, 800 mil peregrinos no Parque Eduardo VII, debaixo de um sol intenso. Hoje, é esperada nova enchente em Fátima, onde o Papa chega pelas 8.50 horas e, de novo, à noite na vigília com os jovens que irão, pela primeira vez, ao Parque Tejo.
Na primeira grande enchente da JMJ, o Papa foi espontâneo e, apesar de cansado, improvisou e não leu grande parte do discurso que estava previsto (tal como sucedera de manhã na Serafina, onde admitiu estar com dificuldade para ler).
Aos jovens, Francisco reafirmou que a “Igreja está aberta a todos e de braços abertos para acolher”. “Jesus é o caminho”, disse, acrescentado que pode ser encontrado “nos evangelhos, mas também na rua, nas praças, nas montanhas e no templo”. “Eu também choro, também me emociono”, disse o Papa, no início da cerimónia que foi animada por um grupo de 50 jovens de 21 nacionalidades.
As dores dos jovens
“Guerras, atentados, tiroteios em massa mas também violência nos casamentos e nos namoros, abusos de crianças, bullying, abusos de poder, famílias onde se atiram palavras que são piores que pedras” foram os temas referidos na segunda estação. Em todas as reflexões, jovens de vários países falaram de experiências que viveram e que os marcaram. João, um português, partilhou a forma como a pandemia e o isolamento lhe trouxeram dificuldades.
“Ainda é desconfortante para tantos admitirem que precisam de um psicólogo, como eu precisei. É difícil reconhecer a nossa fragilidade, pedir ajuda e perceber que não somos autossuficientes; temos medo de ser um fardo e de encontrar rejeição”, comentou.
Também Esther, uma espanhola de 34 anos, deu conta das dificuldades por que passou na sua vida e que a faziam sentir “perdida no mundo” – um acidente que a deixou numa cadeira de rodas, um aborto e relações amorosas problemáticas –, até que sentiu “a infinita misericórdia de Deus”.
Calor não demove
Durante a tarde, a sede e o calor abrasador de Lisboa não demoveu milhares de peregrinos que chegavam apressados à Colina do Encontro para mais um momento com o Papa. Formaram-se filas a cada ponto para encher as garrafas de água e nos bebedouros espalhados pelo recinto. Muitos aproveitaram para descansar, outros dançavam alegres ao som dos concertos do altar-palco.
Mariana, 24 anos, e Sara, 16, ambas porto-riquenhas, chegaram pelas 14 horas preparadas para enfrentar o calor: trouxeram chapéus de chuva, água e fruta. A zona onde descansavam à sombra foi escolhida estrategicamente. “Um voluntário disse-nos que, ontem, o Papa passou por aqui de papamóvel, então ficaremos para o ver de perto”. Geovana, 16 anos, dançava, animada. “Esperamos que o Papa olhe para nós e nos dê a bênção. Não importa o sol, nós só o queremos ver”, disse a brasileira.