<p>"Um filho que visita a sua mãe" apresentou-se, ontem, quarta-feira, frente à imagem da Senhora de Fátima, na capelinha das aparições. Entre vivas dados pela multidão, Bento XVI evocou João Paulo II, o Papa que mais amou Fátima e mais ali é amado.</p> <p> <a href="http://jn.sapo.pt/Dossies/dossie.aspx?dossier=Papa Bento XVI em Portugal" temp_href="http://jn.sapo.pt/Dossies/dossie.aspx?dossier=Papa Bento XVI em Portugal"> <strong>Saiba mais sobre a visita do Papa a Portugal</strong> </a> </p>
Corpo do artigo
Está na coroa da imagem, é sabido, a bala que a 13 de Maio de 1981 foi retirada do corpo de João Paulo II e que, garantia o Papa polaco, havia sido travada por uma "mão invisível", a mão da mãe de Jesus Cristo. E foi a alusão a essa memória, que intensificou a já antes fortíssima devoção mariana do antecessor, que pautou a primeira oração em Fátima de Bento XVI.
"Profundamente consolador" - foram essas as palavras que o Papa leu em português - é saber, portanto, que naquela coroa estão não apenas "a prata e o ouro das nossas alegrias e esperanças", mas, também, "a bala das nossas preocupações e sofrimentos".
À chegada do pontífice, o recinto estava já apinhado de fiéis, surpreendendo os que, uma hora antes, estranhavam os muitos espaços vazios. No espírito da maioria estava, percebia-se caminhando entre os peregrinos, a preocupação de ver o Papa. Tarefa difícil para quem não estava junto às grades que delimitam a zona por onde o papamóvel circula. Mas conseguida por muitos, nem que seja pela sensação de ver um ponto branco ao longe, ou até bem perto, mas com um mar de bandeirinhas a tapar a visibilidade.
De tal modo era a obsessão com a possibilidade de ver o Papa, que as palavras deste nem eram percebidas pelas pessoas, mesmo que a uma dezena de metros do local onde ele se encontrava, isto é, da capela erguida no local onde se acredita terem ocorrido as aparições, de Maio a Outubro de 1917. Palavras cuidadosamente escolhidas, claro, e adequadas ao local, à mensagem de Fátima e à efeméride que se associa a esta presença no santuário mariano, o décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto. A eles aludiu o Papa na oração, mas também à "serva de Deus Lúcia de Jesus", cujas memórias são o único testemunho da mensagem de Fátima e que, pelo que as memórias dela relatam, foi a única a comunicar por palavras com a Senhora do Rosário.
Num momento em que o topo da hierarquia eclesiástica, isto é, ele próprio, tem sido alvo de muitas críticas, devido a escândalos ocorridos no seio da Igreja, Bento XVI lembrou, em forma de gratidão, a devoção que os pastorinhos tinham pela figura do Papa, reforçada, há dez anos, com a revelação do terceiro segredo de Fátima: "Agradeço as orações e os sacrifícios com que os pastorinhos pediram pelo Papa. Agradeço a todos os que rezam pelo sucessor de Pedro".
Ainda na capelinha, o líder católico fez a costumeira oferta, claramente relacionada com o espírito deste pontificado e com a recuperação de velhas tradições, designadamente na liturgia. O presente deposto aos pés da imagem foi a rosa de outro, símbolo oferecido pelos papas a santuários desde a Idade Média.
Ainda ali, deu aos presentes e aos que assistiam pela televisão, a bênção papal, enquanto os sinos da basílica entoavam o "Ave-Maria". Da multidão saíam, novamente, muitos vivas ao Papa. E mais cotoveladas para ver passar aquele carro branco, que um peregrino acreditava ser oferta do Estado português ao pontífice. O primeiro momento de êxtase ocorrera quando o helicóptero que transportava Bento XVI sobrevoou o recinto. O ambiente assim continuou. "O outro é que era um santinho", dizia uma senhora de Santa Maria da Feira. Mas um Papa é sempre um Papa.