Quer o patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, quer o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, convidam os cristãos a receber ao vivo o Papa e não a vê-lo, comodamente, na televisão. Quanto a Fátima, está garantido a Bento XVI um banho de multidão.
Corpo do artigo
Os portugueses vão receber, de 11 a 14 do corrente mês, Bento XVI. Os católicos garantem-lhe como lema da sua hospitalidade: "Contigo caminhamos na esperança. Cristianismo, sabedoria e missão".
O epicentro da visita pontifícia é o santuário mariano de Fátima, catalisador do catolicismo local e universal, na sua expressão de religiosidade popular, com tentativas de a enquadrar teológica e pastoralmente, embora ainda muito insubmissa na sua espontaneidade mais religiosa do que cristã.
Fátima marcou há quase um século a história religiosa e social de Portugal. Bento XVI é um dos principais conhecedores da tradição fatimista. Coube-lhe, em 2000, quando era prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, interpretar o significado do chamado terceiro segredo de Fátima, relacionando-o com o atentado de que foi vítima o seu antecessor, João Paulo II, em 13 de Maio de 1981.
Bento XVI será o terceiro Papa peregrino de Fátima, depois de Paulo VI, em 1967, no 50º aniversário das aparições da Virgem aos pastorinhos, e de João Paulo II em 1982, 1991 e 2000.
O Papa começa por visitar Lisboa, com um encontro com alguns intelectuais portugueses. Terminará a sua estada em Portugal no Porto, deixando, previsivelmente, aqui, um estímulo para a missão, que é a prioridade das prioridades da Igreja. Em Fátima, para além dos banhos de multidão, terá, muito ao seu estilo, uma palavra oportuna a dizer aos agentes sociais sobre a ética que faz falta para superar a crise económica que tanto afecta o nosso país.
Desde a sua eleição, há cinco anos, o Papa tem sido controverso, devido ao seu distanciamento dos "tradicionalistas" como dos "progressistas". Não tem um discurso politicamente correcto e, apesar de ter sido o grande denunciador dos pecados da Igreja, inclusive a pedofilia, tem pago, injustamente, a factura dessa grave e escandalosa crise.
O seu pontificado, numa aliança de professor e de pastor, tem sido positivamente surpreendente para um "Papa de transição", como se dizia quando foi eleito para suceder a João Paulo II, razão que leva muitos a compará-los, sendo incomparáveis.