A Câmara Municipal de Paris está a disponibilizar ferramentas aos habitantes da cidade que permitam a denúncia de "lojas escuras", espaços de distribuição de produtos de consumo diário, instalados em prédios de habitação, que têm provocado muitas queixas.
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A moda das "lojas escuras" resultou da pandemia de covid-19, quando os confinamentos abriram porta ao crescimento exponencial de negócios online. A aposta em entregas rápidas fez, por outro lado, com que os armazéns se situassem o mais perto possível dos consumidores finais. Não tardaram as queixas dos moradores de zonas residenciais, incomodados pelo movimento, ruído e até cheiros que resultam destas atividades nos seus bairros.
Agora, no seu site oficial, a Câmara Municipal de Paris observa que "a instalação de armazéns está sujeita ao código urbanístico, que nem sempre é respeitado". Para poder atuar de forma mais direta e impedir a proliferação destas instalações, a Autarquia da capital francesa, dá aos residentes a possibilidade de reportarem "qualquer instalação para verificação dos seus serviços".
Em Paris, o Plano de Urbanismo Local proíbe instalações de armazéns nos pisos térreos e subsolos de edifícios residenciais. Assim, recorda a Câmara, "não é possível a instalação dessas atividades no local de estabelecimentos comerciais em lotes de habitação", acrescentando que "qualquer transformação de instalações comerciais para outro destino requer permissão".
Mais de 80 espaços identificados
A única forma possível de desenvolvimento é a transformação de instalações em terrenos sem habitação ou mesmo a utilização de instalações já destinadas ao armazém.
De acordo com um estudo recente da APUR (Atelier Parisien d'Urbanisme), em janeiro foram identificadas mais de 80 "lojas escuras" pertencentes a cerca de dez marcas em Paris e seus subúrbios.
Entre as 60 "lojas escuras" de Paris, 14 estão localizadas em um trecho da estrada, protegida pela proteção do comércio e do artesanato. Além disso, o Plano de Urbanismo Local de Paris proíbe a criação de armazéns nos pisos térreos e subsolos de edifícios residenciais.
"Cozinhas escuras" assustam moradores
A par das lojas, surgiram também as "cozinhas escuras", a partir do primeiro confinamento, em março de 2020. Estes espaços estão muitas vezes instalados em antigas lojas no rés-do-chão, não acessíveis ao público, e dedicam-se à preparação de pratos encomendados na Internet e destinados a entrega ao domicílio.
Nestes casos, a par do ruído constante causado pelos motores das scooters dos distribuidores, os moradores queixam-se do cheiro intenso a fritos que invade as suas casas e mostram alguns receios pela possibilidade de incêndios causados pelo aumento da circulação de gorduras pelas condutas dos imóveis.
De acordo com o estudo da APUR, as cozinhas escuras "podem reunir uma ou mais marcas diferentes no mesmo local". Dependendo do caso, algumas podem ter um restaurante físico em Paris e oferecer os seus pratos numa "cozinha escura", por forma a alargarem assim a sua área de entrega, enquanto outras são apenas digitais e não possuem espaço de vendas além do oferecido pelas cozinhas escuras.
Difíceis de detetar
No estudo é apontado o caso da rue Falguière 72, no 15.º bairro, onde uma "cozinha escura" serve oito marcas diferentes que oferecem uma variedade de pratos que vão de hambúrgueres a pratos gregos, italianos, mexicanos e saudáveis.
A APUR destaca ainda que estas cozinhas escuras são difíceis de detetar porque muitas vezes obscurecem as vitrinas, o que não facilita sua visibilidade da rua.
Além de Paris, as lojas e cozinhas "escuras" têm proliferado por toda a Europa, assim como as queixas dos populares. Recentemente, os governos locais de Amesterdão e Roterdão, as duas principais cidades da Europa, congelaram por um ano o desenvolvimento de novos espaços destes, em virtude das ondas de protestos que receberam.