Partidos acusam Chega de querer "instrumentalizar" descontentamento dos polícias
Vários partidos, da Esquerda à Direita, acusaram o Chega de ter promovido um protesto de agentes da PSP e GNR junto ao Parlamento para tentar "instrumentalizar" o descontentamento. Também houve quem tenha criticado a AD por ter "prometido tudo" aos polícias antes das legislativas para, agora, não querer cumprir.
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Num debate agitado, e no qual o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, teve de intervir por várias vezes, a Oposição criticou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, por ter dito que não daria às forças de segurança "nem mais um cêntimo" do que já propôs. Isabel Moreira, do PS, descreveu essas declarações como "um ultimato que gerou um bloqueio nas negociações".
PS, BE e PCP lamentaram que o Governo seja inflexível com os polícias ao mesmo tempo que dá isenções fiscais a "jovens endinheirados", nas palavras do comunista António Filipe. Isabel Moreira acusou o Executivo de ter "prometido tudo" em campanha eleitoral para agora recuar e André Ventura, líder do Chega, apontou a Montenegro: "Os polícias não querem mais um cêntimo, querem dignidade".
Em reação, António Rodrigues, deputado do PSD, lembrou que "as negociações não estão fechadas" e que haverá uma nova ronda na terça-feira. Afirmou também que a proposta de subsídio de risco feita pelo Governo "está pronta para entrar em vigor agora", ao passo que as restantes, da Esquerda à Direita, apenas seriam aplicáveis a partir de janeiro.
Chega queixou-se da demora da entrada dos polícias, mas procedimento é "normal"
A parte inicial do debate, em particular, foi bastante tensa, uma vez que o Chega deu a entender que os polícias que quiseram a assistir ao debate nas galerias do Parlamento estariam a ser impedidos. O líder da bancada da extrema-direita, Pedro Pinto, afirmou que os agentes só estariam a ser autorizados a entrar "de dez em dez minutos".
Pelas 15 horas, quando o debate se iniciou, havia centenas de polícias à entrada da Assembleia, sendo que as galerias estavam praticamente vazias. O presidente do Parlamento assegurou que o atraso não era "intencional" e que o processo decorria "ao ritmo das credenciações normais". Qualquer pessoa que queira assistir aos debates tem de passar os seus pertences num sistema semelhante ao dos aeroportos, que facilmente fica congestionado nos dias de maior movimento.
Aguiar-Branco - que, face à insistência do Chega, se viu obrigado a voltar ao tema - insistiu que o processo decorria de modo semelhante a "qualquer dia normal". Após uma intervenção inflamada de Ventura, o líder da bancada do PSD, Hugo Soares, pediu a palavra para dizer que ninguém dá "lições" ao seu partido no que toca ao respeito pelas forças de segurança.
O social-democrata acrescentou que o atraso na entrada é normal. A título de exemplo, disse que há frequentemente "meninos pequeninos" de escolas que visitam o Parlamento e que também esperam "em fila lá fora para poderem entrar". Dito isto, pediu a Ventura, de forma veemente, "respeito pelas pessoas todas". Também Pedro Delgado Alves, do PS, frisou que as entradas implicam uma verificação de segurança", lembrando que esta é feita pelos polícias que trabalham no Parlamento.
Ventura quis ser "levado em ombros" mas foi "desautorizado", diz PSD
Numa intervenção também ela inflamada, o social-democrata António Rodrigues acusou o Chega de "fracasso" na tentativa de trazer polícias para a rua. Lembrou que o debate "só foi marcado depois das europeias", alegando que Ventura o fez por precisar de "manter a popularidade em alta", já que o "desgaste" provocado pelas eleições de junho "foi tão grande que era preciso animar as hostes".
Rodrigues sustentou que o Chega queria usar o debate não para resolver os problemas das forças de segurança mas sim para "continuar a manipular" os agentes. Alegou que Ventura esperava ser levado "em ombros" pelos polícias, frisando que isso não ocorreu porque os agentes "são pessoas responsáveis" e, também, porque o líder do Chega "foi desautorizado" pelos sindicatos, que se demarcaram do protesto.
A extrema-direita foi visada por várias bancadas, que a acusaram de querer usar as forças de segurança para tirar proveitos políticos. Isabel Moreira, do PS, considerou que o Chega quis "apropriar-se do descontentamento legítimo" dos polícias, ao passo que Rui Rocha, líder da IL, alegou que o partido pretendeu "instrumentalizar" os efetivos da PSP e da GNR. Fabian Figueiredo, líder da bancada do BE, saudou os agentes "que recusam a instrumentalização" e "honram a farda".
Jorge Pinto, do Livre, acusou o Chega de apenas querer "promover a discórdia", com António Filipe, do PCP, a apontar a mira à AD: lembrou que, antes das eleições, a coligação dizia que os cofres "estavam cheios" para agora se mostrar inflexível quanto ao suplemento de missão. Referindo-se também ao suplemento, João Almeida, do CDS, sublinhou que o Governo "triplicou em três meses o que o PS vez em oito anos".
Como esperado, quase todos os diplomas que o Chega levou a votação sobre a questão dos polícias foram chumbados. Dos sete projetos apresentados pelo partido, apenas um projeto de resolução (mera recomendaçao sem força de lei) foi aprovado. Trata-se do diploma que sugere ao Governo a revisão da tabela de gratificados da PSP.
Assim que o projeto de lei do Chega sobre o suplemento de missão foi chumbado (por PSD, PS e CDS), os polícias que assistiam ao debate levantaram-se e abandonaram as galerias em bloco. Foram igualmente chumbados os projetos de lei de PCP e PAN sobre o mesmo tema.