Partidos com soluções diferentes para travar emigração da “geração mais qualificada”
A emigração dos jovens é um grande problema em Portugal a que é necessário dar resposta. Esta foi uma ideia consensual entre os cabeças de lista dos partidos pelo círculo do Porto. Têm de ser criadas condições para incentivar as gerações mais novas a ficar, mas as soluções diferem.
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São cerca de 30% os jovens da considerada “geração mais qualificada” que continuam a sair do país, à procura de melhores condições de trabalho e de vida. Este foi um dos temas centrais no debate realizado esta quarta-feira na Universidade Lusófona do Porto, no âmbito das eleições legislativas de 10 de março, com os cabeças de lista dos partidos com representação parlamentar do círculo do Porto.
Francisco Assis, candidato a deputado pelo PS pelo círculo eleitoral do Porto, acredita que a resposta está no aumento da produtividade. Para o deputado, é assim que será possível melhorar o crescimento económico e, consequentemente, aumentar os salários dos trabalhadores portugueses. Ainda que tenha afirmado a necessidade da economia responder às qualificações dos jovens, admitiu que, apesar de haver problemas, existem “outras coisas que estão a acontecer” e que “a economia portuguesa foi capaz de transformar-se e continua a fazê-lo”.
Do lado da oposição, Miguel Guimarães, candidato pela AD, reconhece que os jovens dos dias de hoje não são iguais aos de antigamente. Na questão da emigração, considera existirem “vários fatores, mas o principal são as condições de trabalho”. Adianta ainda que “houve um crescimento dos salários, mas também um grande crescimento dos impostos”, ao ser abordada a questão dos salários em Portugal. A coligação de direita tem “propostas concretas nos impostos, não só para melhorar o poder de compra das famílias, mas também para a descida de impostos para as empresas”.
O Bloco de Esquerda marcou presença com José Soeiro, devido à impossibilidade de comparência de Marisa Matias, e apontou a habitação como entrave à permanência dos jovens em Portugal. José Soeiro acredita que esta questão pode ser solucionada através do combate “à especulação e pressão que foi colocada no mercado, parando com o desvio de casas para a especulação imobiliária e para utilização não residencial”.
A CDU, representado por João Ferreira, subscreve os problemas de habitação apontados pelo Bloco de Esquerda, salientando a distribuição injusta da riqueza. Durante o debate, o comunista salientou a precariedade existente nos contratos, e a urgência em garantir condições de trabalho mais dignas e seguras.
Há quem defenda reformas fiscais que passem pela redução dos impostos, nomeadamente a Iniciativa Liberal, que esteve no debate representada por Carlos Guimarães Pinto, que propõe soluções como desburocratizar e “tornar o país fiscalmente mais atrativo e competitivo”.
Sobre os jovens e os salários, Rui Afonso, do Chega, mencionou que não se pode "estrangular as empresas a nível fiscal” e arriscou ainda chamar à Autoridade Tributária um “monstro”. O candidato a deputado pelo partido de extrema-direita pelo Porto confessou ser preciso “apostar fortemente na reforma administrativa do Estado”.
No debate não faltou conversa sobre os jovens, salários e crescimento económico, mas a conversa não ficou por aí. Na discussão sobre a região Norte do país, uma coisa ficou clara - tudo o que é prioritário para o país, é prioritário para a cidade do Porto. Sobre a regionalização, os representantes do Chega e do PS não se quiseram comprometer com a questão. Para a AD o assunto não é prioritário, já o Bloco e a CDU são a favor do combate a todas as formas de centralismo, e para a IL “as linhas divisórias são mais geográficas do que partidárias”.
O programa esquecido
Durante o debate moderado pela diretora do Jornal de Notícias, Inês Cardoso, surgiram questões sobre os temas que têm estado ausentes dos debates legislativos. A preocupação do público, sobretudo estudantes, voltou-se para os trabalhadores independentes, a cultura e as alterações climáticas.
Quando questionados sobre os trabalhadores por conta própria, "fustigados pela fiscalidade e proteção social desajustada", a opinião dos representantes centrou-se na necessidade de mais proteção social.
Na corrida às eleições, o investimento na cultura não teve lugar nos grandes debates e, após ser levantada, os candidatos pelo Porto não fugiram à questão. Para a AD as propostas são objetivas e estão no programa, onde se sugere um aumento de 50% no valor atribuído à cultura no Orçamento de Estado. A Iniciativa Liberal quer tornar as instituições culturais mais autónomas e incentivar uma descentralização nesse campo.
O Chega afirma que este é um tema que deve ser tratado de forma apartidária, enquanto a CDU admite que a cultura não é nem um luxo, nem um privilégio, mas sim uma necessidade que necessita da implementação de um serviço público.
O PS compromete-se a aumentar o investimento, frisando o aumento que já tem vindo a ser feito, e o Bloco de Esquerda quer combater a escassa proteção social dos trabalhadores.
Com o debate a aproximar-se do fim, as últimas declarações foram direcionadas a quem deve pagar a crise climática. As respostas variaram entre a questão complexa, por ser um problema global, e a necessidade de combate imediato. Se a direita, como o Chega, acredita que “não podemos cair em radicalismos ambientais”, a esquerda não acredita no combate apenas aos micro-comportamentos, como salientou José Soeiro, mas insiste na intervenção ao nível produtivo das grandes indústrias.