O novo título trouxe mais qualidade de vida, mas também carruagens sobrelotadas e filas para o carregamento. O número de pessoas a aderir ficou bem longe do esperado. A Área Metropolitana de Lisboa previa uma adesão de "15 a 18 mil famílias", mas só há 7700 a usufruírem deste desconto.
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Mais liberdade, menos preocupações e grande poupança ao final do mês. É isto que vem à cabeça de Sandra Henriques e de Cristina Proença quando tentam resumir o que o Navegante Família - passe que permite a todos os elementos de um agregado o acesso a todos os transportes públicos da Grande Lisboa, por 60 ou 80 euros - trouxe às suas casas. Mas nem tudo é um "mar de rosas". Há mais pessoas nos transportes, já antes sobrelotados, e só é possível carregar o novo título num posto de atendimento. A adesão também ficou aquém das expectativas. "O número de famílias que esperávamos, 15 a 18 mil, ainda não foi atingido", esclarece o primeiro-secretário da Área Metropolitana de Lisboa (AML), Carlos Humberto.
O responsável reconhece os atrasos e a falta de composições como as principais queixas. "E com razão", sublinha. "Precisamos de aumentar a oferta de transporte público", admite. Para concretizar esse objetivo, lembra que a AML lançou, no mês passado, um concurso para ampliar a oferta de autocarros nos 18 municípios.
Maior liberdade de escolha
Sandra Henriques, 41 anos, moradora no Barreiro, sempre que tinha de deslocar-se a Sintra, Cacilhas ou outras localidades da Grande Lisboa em trabalho "tinha de pensar muito". "Era sempre uma preocupação grande sobre como ia gerir o dinheiro e os sítios onde podia ir", recorda a escritora de viagens. Agora, vai a qualquer parte sem refletir tanto. Uma "maior liberdade de escolha" que, garante, se estende ao resto da família: o marido, Dhanish, 36, e o filho Diogo, 21.
Antes da entrada em vigor do Navegante Família só um dos dois comprava passe. "O meu marido, como trabalha em casa, era quase sempre o "sacrificado"", conta. Já o filho tinha título de transporte apenas para circular no Barreiro. "Sempre que queria vir a Lisboa sair com os amigos gastava cinco euros em bilhetes. Acabava por estar mais condicionado", lembra. Além de mais deslocações, o novo passe permitiu à família poupar 70 euros por mês. "Há um de nós que anda quase de borla, é realmente uma grande poupança", frisa.
O Navegante Família, em vigor na Grande Lisboa desde agosto, permite que pais, filhos e avós (descendência direta) possam viajar por toda a Área Metropolitana de Lisboa, em qualquer transporte público, por 80 euros por mês. Se a família só se deslocar dentro do concelho de Lisboa, este valor desce para 60. Paulo Carneiro, 58 anos, Cristina Proença, 54, e os dois filhos, de 19 e 25, pagam 80 euros para se deslocarem entre os vários municípios. Antes, gastavam 210 euros por mês. O que sobra agora dá para pagar outras contas e "muito mais".
Agora tenho de viajar de pé, antes ainda se encontrava um lugar
"Dá para as faturas da eletricidade e da água e para mais lazer. Saímos mais, fazemos programas culturais que antes não fazíamos, e que são tão importantes. Dá-nos liberdade", confessa Cristina. O acréscimo no rendimento familiar sentiu-se muito, mas a melhoria da mobilidade de todos os membros da família também foi muito importante. "O nosso filho mais novo não andava tanto, e agora começa a ir mais para Sintra, Cascais, Caparica, e outras cidades para onde, antes, tinha de pagar", explica Paulo.
Juntamente com o marido, Cristina sai todos os dias de manhã do Cacém (Sintra) em direção ao Areeiro, em Lisboa, onde trabalham os dois. É nestas viagens diárias que o lado menos bom daquela que foi anunciada como uma revolução na mobilidade urbana começa a manifestar-se. "Agora tenho de viajar de pé, antes ainda se encontrava um lugar", conta Paulo Carneiro. Um sentimento partilhado pela mulher. "Há mais pessoas a usarem os comboios. Vão sempre cheios", relata.
Sem carregamento no Multibanco, filas são enormes
Outro dos inconvenientes do novo passe familiar é só ser possível o carregamento em postos de venda de transportes públicos. "Não conseguimos carregar numa máquina ou numa caixa multibanco. Para evitar a confusão não vou carregar no último dia do mês, quando há filas enormes", explica Paulo Carneiro. Uma crítica que o responsável da AML aceita. "O processo de requisição do passe família não é o mais simples, reconhecemos isso", admite Carlos Humberto.
Há mais pessoas a utilizarem os transportes públicos, uma realidade para a qual muito contribuiu a entrada em vigor, em abril de 2019, dos novos passes.
O Navegante Familiar, que chegou quatro meses depois, também trouxe mais passageiros, mas não está a ter tanto sucesso
Andante família chega em maio ao Porto
O passe equivalente ao Navegante Família de Lisboa começa a ser vendido no Porto a partir de 13 de abril nas lojas Andante e entra em vigor a 1 de maio. As famílias do Grande Porto vão ter acesso a duas novas assinaturas: o Andante Família Metropolitano e o Andante Família Municipal. O primeiro tem um custo de 80 euros e dá para toda a rede da Área Metropolitana do Porto e o segundo tem um valor de 60 euros e dá apenas para o município, tal como na capital.
Para aderir, todos os elementos do agregado familiar têm de possuir já um cartão Andante.
No momento da adesão ao título familiar, posterior à compra do cartão, o mesmo será associado à assinatura familiar e o carregamento será feito para a família toda.