Numa altura em que o metro do Porto continua a bater recordes e se aproximam as obras de expansão há uma mudança de paradigma que sobressai. Os dados relativos a 2018 mostram que, além das idas para o trabalho e para a escola, o metro surge cada vez mais como o meio de transporte ideal para os passeios em família aos fins de semana
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Na Senhora da Hora, em Matosinhos, a estação das Sete Bicas é já um fenómeno. Só no ano passado, mais de 368 mil pessoas passaram por lá aos fins de semana e feriados. Motivo: as peregrinações ao NorteShopping. No total, 62,6 milhões de passageiros foram transportados em toda a rede durante o ano passado.
Os números são a melhor prova da "vida dupla" que caracteriza o metro do Porto. No topo da procura está, quer à semana, quer aos fins de semana e feriados, a estação da Trindade, com uma média de 12 milhões de validações por ano. E a esta segue-se, durante a semana, a estação da Casa da Música, com mais de três milhões de pessoas em 2018. Já aos fins de semana, é a estação de S. Bento que ocupa o segundo lugar do ranking: 666 280 passageiros foram transportados no ano passado.
E, tal como neste caso, os números relativos às estações do Bolhão e dos Aliados mostram que há cada vez mais pessoas a usarem o metro para ir até à Baixa. É o caso de Daniela Rodrigues e Márcio Sousa, de 26 e 31 anos. Além de optar pelo metro para as idas às compras ao NorteShopping, em Matosinhos, o casal escolhe também o transporte "para ir passear até Santa Catarina", com a filha Yasmin. As razões são, sobretudo, "o facto de ser mais prático e muito mais barato", explica Márcio.
Enchente em sete bicas
Se durante a semana a estação das Sete Bicas não tem muita gente, o mesmo não se pode dizer em relação aos fins de semana e feriados. Aos sábados e domingos, as composições chegam cheias de famílias que, após o almoço, vão fazer compras ao NorteShopping, que fica a menos de cinco minutos a pé daquela estação. Para muitos, aquela é mesmo conhecida como "a estação do NorteShopping". Ainda assim, à saída das composições há quem opte por parar para pedir indicações. À volta, não se vê qualquer referência àquele centro comercial.
Para Nice Faria, de 29 anos, "a cidade do Porto está bem servida no que diz respeito aos transportes". E a proximidade de algumas estações de metro em relação aos centros comerciais é um fator decisivo na hora de sair de casa. "Acho que é muito mais prático", comenta a jovem, enquanto aguarda a chegada do metro para regressar ao Porto. A mesma opinião partilha Madalena Teixeira, de 46 anos, que faz bem mais quilómetros sempre que precisa de ir àquele centro comercial. "Sou da Póvoa e costumo ir ao MarShopping [em Leça da Palmeira] e ao NorteShopping. Mas prefiro vir de metro porque é mais prático e mais barato", conta, adiantando que antes fazia essas viagens de carro, mas dava "muito mais transtorno".
De comboio para o metro
Tal como acontece nas Sete Bicas, muitos dos passageiros que entram e saem na Levada, em Rio Tinto, Gondomar, têm como destino o shopping. Neste caso, o Parque Nascente, que fica junto à estação. Sendo que, relativamente a este centro comercial, muitos dos clientes são de outras cidades do distrito e, por isso, começam a sua viagem de comboio. Vindos de cidades como Penafiel, Paredes ou Marco de Canaveses, estes optam por sair na estação de Contumil e, de lá, seguirem de metro. Só no ano passado, passaram pela Levada, aos fins de semana e feriados, mais de 74 mil passageiros.
Para perceber a ligação estabelecida entre as estações de metro e os centros comerciais basta olhar, por exemplo, para o caso de duas estações de que até já mudaram de nome: a estação do Viso, no Porto, e a antiga estação de Modivas Norte, em Vila do Conde.
Com a mudança do nome para Via Rápida-Viso, aquela tornou-se a primeira estação da rede a receber, em 2017, o nome de um centro comercial. Antes disso, já muitas pessoas utilizavam o metro para irem até ao "Via Rápida", que fica a Rua do Engenheiro Ferreira Dias. Jorge Morgado, diretor de comunicação da Metro do Porto, explica que com a mudança do nome consegue "reforçar-se essa ligação entre o metro e os centros comerciais". Algo que aconteceu, também, em Vila do Conde, quando um "acordo de naming" rebatizou a antiga estação Modivas Norte, que passou a designar-se Vila do Conde Fashion Outlet. A verdade é que, em Gaia, mesmo que a estação continue a chamar-se João de Deus, muitos referem-se àquela paragem na Avenida da República como "a estação do El Corte Inglés".
Queremos estar onde as pessoas estão
Mas, nem só as idas às compras contribuem para dar, aos fins de semana e feriados, uma nova dinâmica à rede. Aos fins de semana, as visitas ao Estádio do Dragão e ao Museu do Futebol Clube do Porto, bem como os jogos das modalidades, que levam milhares ao Dragão Caixa, também se fazem notar através do aumento do número de passageiros. Aquela estação serve ainda o centro comercial Alameda, que é, para muitas famílias, ponto de paragem aos sábados e domingos. Só em 2018, mais de um milhão de pessoas passou pela estação do Estádio do Dragão.
Para a Metro do Porto, as estações da Baixa, Sete Bicas e o Estádio do Dragão são alguns dos casos que atestam o princípio da marca: "Queremos estar onde as pessoas estão", salienta Jorge Morgado, adiantando que com as obras de expansão da rede se prevê que surjam "novos pontos de atração"