Passos Coelho afirmou, esta segunda-feira, em Faro, que a AD tem a obrigação de “manter” o “espírito reformista” para ajudar os portugueses a “mudar o país”. O antigo líder do PSD criticou o “calculismo” do PS e acusou António Costa de deixar um “vazio enorme” em Portugal. E fez uma declaração polémica sobre imigração.
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Perante centenas de militantes, o antigo líder do PSD começou o discurso a justificar a presença no Algarve para “retribuir a gratidão” que sentiu de Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD quando ocupou o cargo de primeiro-ministro e de líder do partido. Depois, recuou a 1979 para lembrar o “espírito da AD” de Sá Carneiro. "O dr. Sá Carneiro tinha uma frase muito marcante: ‘Os velhos não tinham presente e os jovens não tinham futuro’. Também hoje há problemas sérios que aguardam solução. Precisamos de mobilizar as pessoas para as tarefas do futuro. Acreditarmos que o país tem um futuro melhor do que aquele que está a ser oferecido às pessoas”, afirmou.
De seguida apontou críticas aos oito anos de governação do Partido Socialista de António Costa, considerando que as “medidas públicas” tomadas pelos socialistas apresentam “desgaste”, “falta de qualidade” e, inspiram, por isso, “preocupação da maioria das pessoas”.
Deu as políticas de imigração como exemplo e recordou que, em 2016, disse: “precisamos de ter um país aberto à imigração, mas cuidado que precisamos de ter também um país seguro”. “O Governo fez ouvidos moucos disso e, na verdade, hoje as pessoas sentem uma insegurança que é resultado da falta de investimento e prioridade que se deu a essas matérias”, considerou.
Recordando que se assinalam este ano os 50 anos do 25 de abril, Passos salientou que o PSD foi um partido essencial para a “construção desse estado de direito e dessa democracia” e, por isso, deve mostrar ao portugueses que quer “fazer diferente” para oferecer às pessoas “boas razões para acreditar no futuro e em Portugal”, acrescentou.
Para Passos, a governação do país não pode ser a olhar “para o dia-a-dia” ou para os “oportunismos políticos de ocasião à espera de fazer alguma pequena distribuição que todos os dias ofereça qualquer coisinha a alguém”. “Quando isso se esgota aquilo que fica é um vazio enorme. E isso é que o faz hoje qualquer pessoa que possa ter recebido qualquer coisinha sente quando olha para o futuro. Ficou pouco ou nada para se oferecer no futuro”, realçou.
“Nós somos donos de nós próprios, da nossa vida e do nosso futuro”
Sempre virado para os últimos anos de governação de António Costa, Passos Coelho lembrou que a AD tem que ter “arrojo” de “confiar nas pessoas e de não as querer dirigir”. “Temos de abandonar este dirigismo, este calculismo de quem está sempre à espera de ser obedecido, já não porque se sente em posição de ser o dono da economia, mas ser o dono do próprio Estado. Nós somos donos de nós próprios, da nossa vida e do nosso futuro”, observou.
“O PSD tem um bom programa económico, é preciso pô-lo em prática. Sem uma economia saudável e a crescer não é possível ter um resultado diferente. Sabemos que a política não é só economia”, afirmou.
Assim, notou que deve importar também à AD que as “pessoas pensem pela própria cabeça” nas várias áreas, incluindo na educação. “As pessoas que passam por lá e não sintam que ninguém anda a meter pela goela abaixo aquilo que há de ser a sua vontade e maneira de pensar porque queremos que as pessoas pensem pela sua cabeça. Nas escolas, na saúde, em todo o lado”, vincou.
No final, o antigo líder do PSD realçou que o resultado natural nestas eleições é a vitória da Aliança Democrática. “O tempo que vivemos trará o resultado que almejamos. Não por falta de humildade ou um convencimento absurdo. O resultado natural nestas eleições é a vitória da AD. É a cosia mais natural do mundo. O PS não só tem um vazio imenso para oferecer ao país, repete as fórmulas gastas que remetem para o passado, para a geringonça, é isso que tem para oferecer ao país?”, questionou. “O resultado natural é uma escolha na AD”, insistiu, e pediu aos portugueses que deem a Montenegro um governo com estabilidade.
"Não venho criar desatenções"
À chegada, enquanto caminhava lado a lado com Luís Montenegro, rodeados pela comunicação social, Passos deixou claro que nao vinha fazer sombra a ninguém. "Eu não venho cá criar desatenções, venho cá ajudar o PSD em campanha", afirmou.
Com a aparição do antigo líder do PSD logo no início desta campanha eleitoral, ficam desfeitas as dúvidas quanto à sua participação na campanha da Aliança Democrática.
O tema chegou aos debates televisivos, logo no dia 19 de fevereiro, onde Pedro Nuno Santos afirmou que “não há de ser por acaso” que Montenegro não traga Passos Coelho à campanha, “nem o convidou para a convenção da AD”, notou. Recorde-se que nesse encontro, no dia 21 de janeiro, no Estoril, estiveram presentes figuras como Pedro Santana Lopes e Leonor Beleza. Esta segunda-feira, no debate das rádios, Luís Montenegro tinha sido questionado sobre se contaria com a presença de Pedro Passos Coelho na campanha da AD e respondeu "logo vemos".
Recorde-se ainda que no dia 10 de outubro de 2023, em entrevista à CNN Portugal, quando questionado sobre o ex-líder do PSD, Montenegro sugeriu que Passos Coelho podia dedicar-se à universidade. "Está habilitado a fazer tudo na vida política e muita coisa na vida privada, incluindo na vida universitária", afirmou o líder do PSD.
Pedro Passos Coelho liderou o PSD entre 2010 e 2018, tendo sido primeiro-ministro entre 2011 e 2015. Liderou um governo de coligação entre o PSD e o CDS-PP e, em 2015, venceu as legislativas, sem maioria absoluta, à frente da coligação pré-eleitoral Portugal à Frente. No entanto, o seu executivo acabou por cair com uma moção de rejeição apresentada pelo PS na Assembleia da República, dando lugar à primeira legislatura de António Costa com o apoio parlamentar do PCP, PEV e do Bloco de Esquerda. A sua governação foi marcada pela aplicação das medidas de austeridade que resultaram do memorando de entendimento com a troika.