Passos Coelho apresenta manifesto contra "adversários da família" e "ideologia de género"
Passos Coelho apresenta hoje em Lisboa, um manifesto conservador, da autoria de mais de duas dezenas de personalidades portuguesas, contra várias “iniciativas” que têm “lesado" a instituição famíliar. Defendendo o conceito tradicional de família, atacam, entre muitos alvos, aquilo a que chamam de "ideologia de género".
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O livro "Identidade e Família", que reúne contributos de 22 personalidades da Direita conservadora (não-liberal), entre os quais ex-ministros, ex-líderes partidários e ex-deputados, é apresentado esta segunda-feira, às 18.30 horas, na Livraria Buchholz, em Lisboa. A obra, que se apresenta como um manifesto anti-progressista, de acordo com o "Expresso", vai ser lançada pelo ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que há cerca de dois anos publicou um artigo de opinião no "Observador" pedindo ao PSD de Montenegro que travasse a lei da eutanásia e cujo discurso conservador tem marcado as intervenções recentes.
Os autores de "Identidade e Família" - em que se incluem o ex-ministro das Finanças Bagão Félix (um dos coordenadores), o economista César das Neves, o politólogo Jaime Nogueira Pinto, o médico psiquiatra Pedro Afonso, o ex-deputado do Parlamento Europeu pelo CDS Ribeiro e Castro e o ex-líder do partido Manuel Monteiro, com a benção do cardeal Manuel Clemente e de outros membros do clero - defendem uma identidade que creem estar em risco. Assumindo a família tradicional como a “única sociedade” que acreditam ser “natural, universal e intemporal”, a introdução da obra sublinha ao que vem: “No nosso país temos assistido, nos últimos anos, a diversas iniciativas legislativas que condicionam e lesam” essa “instituição”.
Contra "ideologia de género", "educação sexual", eutanásia, aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo
Exemplos dessas "iniciativas", de acordo com o semanário, são a eutanásia, o aborto, a ideologia de género e o casamento entre casais homossexuais. “Não podemos desvalorizar os adversários da família, umas vezes mais à luz do dia, outras vezes de um modo mais subtil e larvar, mas nem por isso menos dissolvente. Importa valorizar a família enquanto a primeira instituição contra o relativismo ético, a indiferença e a licenciosidade, a propagação anestesiante da cultura de morte, o positivismo hedonista, o egoísmo geracional, o individualismo predador, o subjectivismo e o fundamentalismo a-histórico”, pode ler-se na introdução.
A propósito daquilo a que chama de "ideologia de género", Pedro Afonso, fundador do Movimento Ação Ética, acusa-a de comprometer o “desenvolvimento humano fundado em valores”, associando-a a "patologias psiquiátricas". Aponta o “sequestro dos conteúdos programáticos” da escola pública, defendendo que “o Estado não deve promover, com base numa ideologia sem base científica, a desobstrução da identidade dos papéis masculinos/femininos em crianças e adolescentes", que se tornam "cobaias" de um "projeto de engenharia social".
Por seu turno, o economista João César das Neves contesta a “certeza” de que "ao longo dos séculos a mulher foi sucessivamente oprimida e desprezada". “Esta convicção é estranha por duas razões. A primeira é que as mulheres sempre foram a maioria da população, o que torna insólito que sejam dominadas pela minoria masculina. O segundo motivo é que essas senhoras, alegadamente tiranizadas, nunca se queixavam ou manifestavam o seu desagrado", argumenta.
Ainda segundo reporta o "Expresso", Gonçalo Portocarrero de Almada, da Opus Dei, e cronista do "Observador", faz a “defesa do humanismo cristão contra o totalitarismo democrático”, que diz atuar “em nome de uma suposta igualdade ou não-discriminação”, incluindo nesse “totalitarismo” aqueles que defendem “o aborto das menores ou das deficientes” e as disciplinas de Cidadania e Desenvolvimento e de Educação Sexual.
Já Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, insurge-se contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legislação “que facilita o divórcio”. E Paulo Otero, professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade da Lisboa, aponta o dedo às leis que permitem a adoção por casais homossexuais e a procriação medicamente assistida, bem como “a transformação do aborto e eutanásia em direitos”.

