O antigo vice primeiro-ministro, Paulo Portas, alertou que, caso o PS ganhe as legislativas, haverá uma "geringonça 2.0" - desta vez com PCP e BE a integrarem o Governo. Também afirmou que a "amnésia" e "impulsividade" de Pedro Nuno Santos fazem com que o socialista não seja "o mais qualificado" para liderar o país.
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Na convenção da Aliança Democrática (AD), que decorre este domingo, Portas disse que, caso o PS ganhe as eleições de 10 de março, Pedro Nuno Santos será "um primeiro-ministro inexperiente, mais esquerdista e com BE e PCP sentados no Conselho de Ministros". A seu ver, daí resultaria "o Governo mais radicalizado desde 1976".
Portas argumentou que uma nova geringonça "gerará menos confiança, menos investimento e, portanto, menor crescimento". A AD, pelo contrário, está em melhor posição para agradar tanto a investidores como às famílias, originando maior crescimento económico ao mesmo tempo que dá mostras de maior capacidade de reduzir a dívida, alegou.
O antigo líder do CDS, que discursou durante meia hora, tentou ajudar quem "ainda hesita" sobre o sentido de voto a "ordenar ideias". Considerando que a "principal missão da AD" é "substituir o ressentimento pela esperança" e lutar contra a "resignação", expressou um primeiro desejo: "Seria bom para Portugal e para o próprio PS" que os socialistas tivessem "uma cura de Oposição".
Comentando a disputa entre António Costa e Belém, Portas vincou que "foi o primeiro-ministro que apresentou a demissão ao presidente da República, não foi o presidente a demitir o Governo". Esta observação recebeu palmas da plateia que encheu o Centro de Congressos do Estoril.
Castigar quem defende uma "guinada à Esquerda" e apelo à "bipolarização"
O democrata-cristão também considerou que o Executivo "entrou em vertiginosa decomposição", recordando as várias demissões. De seguida, lembrou as eleições internas do PS, para sublinhar que José Luís Carneiro - "o candidato que defendia acordos ao centro" - foi derrotado por Pedro Nuno Santos, que advogava "uma guinada à Esquerda".
"Sendo as coisas assim, fica bastante claro o que está em causa: ou a AD ganha e faz um Governo de mudança ou o que teremos não é uma repetição do PS mas sim uma repetição da geringonça, com um primeiro-ministro inexperiente, mais esquerdista e com BE e PCP sentados no Conselho de Ministros", avisou, recebendo nova ovação.
Portas também fez um diagnóstico ao país, concluindo que, nas várias áreas - da educação à saúde, passando pela carga fiscal e pelas forças de segurança, "a quem devemos o respeito pela lei e pela ordem" -, tudo está pior. E, se assim é, "a única opção racional é um voto de castigo ao incumbente, ou seja, ao PS", rematou.
Sem nunca mencionar o Chega, o antigo ministro considerou que tanto o partido de André Ventura como os socialistas são as duas pinças de uma "tenaz virtual", cujo único objetivo é "perpetuar o PS no poder". A isso propõe que a AD oponha a "bipolarização" entre o programa que propõe para o país e o modelo socialista.
Os "marcianos" socialistas e a "leviandade" de Pedro Nuno
Portas não desarmou no ataque ao PS. Citando o escritor Francisco José Viegas, comparou os socialistas a "um grupo de marcianos" que "não viveram neste país nem estiveram sentados no Conselho de Ministros nos últimos oito anos", querendo agora "apresentar-se como turistas".
O democrata-cristão procurou chamar o atual líder do PS à responsabilidade, colando-o às decisões problemáticas tomadas pelo Governo e frisando que ele "concordou" com elas. Também recapitulou as polémicas a envolver o próprio Pedro Nuno, da nacionalização da TAP à indemnização a Alexandra Reis, culminando na "operação clandestina de compra de ações dos CTT".
Portas acusou Pedro Nuno de ter dado mostras de "leviandade" durante o período em que foi ministro das Infraestruturas. A isso, alegou, juntou-se a "amnésia" evidenciada quando foi chamado a explicar certas decisões que tomou.
Essas características, alegou Portas, fazem com que o líder socialista não seja "o mais qualificado" para chefiar um Governo. "Se, como ministro, não mostrou preparação e revelou várias vezes impulsividade, o que seria como primeiro-ministro?", indagou.
"Tomem cuidado" com a extrema-direita
Embora se tenha centrado no ataque ao PS, Portas reservou uma última palavra para o Chega. Continuando sem mencionar o partido, aconselhou a que os eleitores indecisos "meditem" sobre as consequências de decisões tomadas ou influenciadas pela extrema-direita noutros países.
A este propósito, lembrou acontecimentos como o Brexit (após o qual, vincou, o Reino Unido perdeu investimentos e exportações), o ataque ao capitólio nos EUA - um dia em que a democracia "ia morrendo", frisou - ou os negacionistas brasileiros no tempo de Bolsonaro e da covid-19. "Tomem cuidado: problemas complexos não se resolvem com 142 caracteres", avisou, numa referência à rede social X.
Portas concluiu ilustrando a diferença fundamental entre a AD e o Chega: "Nós não somos pela desordem, nós não somos pela insurreição. Somos pelas reformas e pela estabilidade", garantiu.
A convenção "Por Portugal", organizada pela AD, reúne muitas das personalidades de maior destaque de PSD e CDS, a menos de dois meses das eleições legislativas. Vai ser encerrada pelo líder social-democrata, Luís Montenegro, por volta das 18 horas. Pedro Passos Coelho não foi convidado.