Paulo Raimundo à espera de um PS pós-eleições com "proclamações" e "peito cheio"
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, disse, esta sexta-feira, esperar do PS apenas "proclamações, 'peito cheio'" e "tentativa de dar nova imagem", independentemente de quem ganhar as eleições internas para a liderança deste partido.
Corpo do artigo
"Pegando nas palavras dos dois principais candidatos, o PS é só um. Não fui eu que inventei esta palavra", mas sim "os principais dois candidatos", afirmou o líder comunista, à margem de contactos com trabalhadores à saída da Herdade de Vale da Rosa, no concelho de Ferreira do Alentejo (Beja).
Questionado pelos jornalistas sobre quem prefere ver à frente do Partido Socialista, o secretário-geral do PCP disse não ter qualquer preferência e anteviu o que, na sua opinião, se vai seguir.
"Se o PS é só um, o que é que nós podemos esperar do PS depois de sábado? Podemos esperar do PS as proclamações, 'peito cheio', tentativa de dar uma nova imagem, 'slogans´ e um conjunto de declarações ocas, mas muito apelando ao coração", afirmou.
E, acrescentou, "naquilo que é concreto", vai continuar "aquilo que se passou nestes últimos dois anos em particular", que é "abrir as portas aos grandes grupos económicos, aos seus 25 milhões de euros de lucros por dia, apertando as nossas vidas".
Segundo o líder comunista, "por incrível que pareça, a realidade destes últimos dois anos foi o Partido Socialista tirar o tapete completamente ao PSD, à Iniciativa Liberal e ao Chega, que ficaram sem instrumentos de fazer oposição".
"Lá inventaram umas coisas, não é? Umas berrarias aqui, umas coisas ali, mas, na prática, ficaram sem instrumento, porque o PS lhes proporcionou essa política que tirou conteúdo à oposição", afiançou.
Cerca de 60 mil militantes socialistas escolhem, entre hoje e sábado, o sucessor de António Costa como secretário-geral do PS, cargo ao qual se candidataram José Luís Carneiro, Pedro Nuno Santos e Daniel Adrião. O processo eleitoral no PS foi aberto com a demissão de António Costa das funções de primeiro-ministro, em 7 de novembro, após ser tornado público que era alvo de um inquérito judicial instaurado pelo Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, no âmbito da Operação Influencer. Além do novo líder do partido, os socialistas vão eleger 1400 delegados (aos quais se juntam 1100 delegados por inerência) ao Congresso Nacional, que se reunirá entre 5 e 7 de janeiro, na Feira Internacional de Lisboa.
Raimundo rejeita "futurologias" sobre o "ainda primeiro-ministro" no Conselho Europeu
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, defendeu que António Costa deve concentrar-se "na resolução dos problemas do país", porque "ainda é primeiro-ministro", e escusou-se a "alimentar futurologias" sobre o Conselho Europeu. "O senhor António Costa ainda é primeiro-ministro e, como primeiro-ministro que ainda é de um governo em gestão, tem muitas coisas ainda para resolver no nosso país", afirmou o líder comunista.
Questionado sobre se entende que António Costa seria um bom candidato à presidência do Conselho Europeu, o secretário-geral comunista defendeu que o foco deve estar nos assuntos nacionais.
Seria "bom que nos concentrássemos todos, e ainda António Costa como primeiro-ministro se concentrasse, na resolução dos problemas do país", argumentou.
E "todos devemos contribuir para isso e não alimentar futurologias e cenários futuros que não resolvem nada da vida das pessoas", assinalou também o líder do PCP.
Sobre os elogios que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fez a António Costa, na quinta-feira, Paulo Raimundo lembrou que, "confrontado com outro tipo de declarações entre um e outro", já disse que "não queria alimentar falsas tricas".
"Quem não critica, quem não alimenta falsas tricas, também não quer alimentar falsos amores ou falsos apoios. E, portanto isso não tem interesse nenhum do ponto de vista da vida das pessoas", considerou.
Sobre este mesmo assunto, Paulo Raimundo ainda ironizou: "Vamos entretendo-nos com isso. É Natal, estamos no espírito natalício, o amor está no ar e, portanto, está tudo impecável".
Na quinta-feira, o Presidente da República afirmou que António Costa era o seu preferido para liderar o PS, responsabilizou-o pela demissão e considerou que tem condições para presidir ao Conselho Europeu e que também seria um bom candidato presidencial.
Questionado igualmente sobre o caso das gémeas luso-brasileiras no Hospital de Santa Maria, o secretário-geral do PCP defendeu o rápido esclarecimento desta matéria, de preferência antes das eleições legislativas de 10 de março.
"O ideal é que não tivéssemos de esperar pela próxima legislatura para isto estar esclarecido, isso era o ideal", sustentou.
Aludindo ao relatório da "comissão que estava a estudar esta questão no Hospital de Santa Maria", Paulo Raimundo realçou que, "apesar de tudo foi rápido" e "tirou um conjunto de conclusões".
"É um bom contributo para o esclarecimento da situação", afirmou também o líder do PCP.
O caso duas crianças gémeas residentes no Brasil que entretanto adquiriram nacionalidade portuguesa e vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma para a atrofia muscular espinhal, com um custo total de quatro milhões de euros, foi divulgado pela TVI, em novembro.