PCP critica "benessezinha" no IRS e avisa que "fatia de leão" está destinada ao IRC
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, criticou o conceito de justiça fiscal do Governo, considerando que a descida do IRS prevista para setembro é “uma benessezinha” e que “a fatia de leão” está destinada à descida do IRC.
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“Convenhamos que no conceito do primeiro-ministro o grande salto de justiça fiscal pelos vistos é a descida de IRC para as grandes empresas, essa é a grande medida, o resto é só para nós nos entretermos aqui a falar um bocadinho, desta ou daquela benesse, deste ou daquele rebuçado. O grosso, a parte de leão, a fatia de leão, sabemos para quem é que se dirige a reforma fiscal”, criticou Paulo Raimundo.
O líder comunista falava aos jornalistas na Feira do Livro, em Lisboa, depois de hoje, no Luxemburgo, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, ter dito que espera que o parlamento aprove a redução do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRS), no valor de 500 milhões de euros, de forma a entrar em vigor a partir de setembro, como aconteceu em 2024.
Interrogado sobre se descer os impostos para a classe média não é importante, Paulo Raimundo respondeu que “é importantíssimo mas tem que se reduzir mais”, e fez uma crítica geral à política fiscal do executivo minoritário PSD/CDS-PP.
Paulo Raimundo rejeitou que a redução de 500 milhões seja um valor reduzido mas realçou que o programa do XXV Governo Constitucional prevê uma descida de IRC correspondente a cinco mil milhões de euros.
“Esta é a questão. Se o Governo nos dá uma cenoura, nós vamos todos atrás da cenoura? Não, nós temos que olhar para as coisas como elas são”, criticou.
"Loucura do caminho do armamento"
Um dia depois de o primeiro-ministro se ter reunido com Chega e PS sobre a cimeira da NATO, que se realiza na próxima semana, na cidade de Haia, Países Baixos, Paulo Raimundo foi questionado sobre o que diria se tivesse sido convocado e como viu o anúncio de Espanha, que rejeitou a meta dos 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas militares, que deverá ser proposto aos aliados.
O secretário-geral do PCP começou por criticar “a quadratura” que se juntou na Assembleia da República para chumbar a moção de rejeição ao programa do Governo apresentada pelos comunistas - AD, PS, Chega e IL.
“É lógico que o primeiro-ministro nunca nos convocaria para uma conversa destas, por duas razões: uma porque sabia o que nós íamos dizer, e a segunda porque também convocou esses porque também sabia o que é que eles iam dizer”, respondeu.
O comunista classificou como "de loucos" que o país equacione atingir os 5% do PIB em despesas militares, salientando que Portugal tem "dois milhões de pessoas na pobreza, dois milhões e meio de trabalhadores que ganham até mil euros, 800 mil pessoas a ganhar o salário mínimo nacional, um milhão de reformados que ganham até 510 euros de reforma, urgências fechadas e escolas sem professores".
Insistindo nas críticas à "loucura do caminho do armamento", Paulo Raimundo disse que podia ajudar o primeiro-ministro a escrever uma carta, à semelhança da Espanha, a indicar à NATO a recusa de atingir os 5% do PIB, mas deixou-lhe outra sugestão.
"Pelos vistos o primeiro-ministro vai à cimeira da NATO. É uma boa oportunidade", rematou.