PCP lamenta eleições "tardias", BE recusa guerras e PS "compreende" decisão de Marcelo
O PCP considerou esta quinta-feira que a data de 30 de janeiro escolhida pelo Presidente da República para as eleições legislativas antecipadas é "incompreensivelmente tardia" e dá a sensação de estar condicionada por "candidaturas a lideranças partidárias".
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"É uma data incompreensivelmente tardia e que entra em contradição com a própria declaração do Presidente da República de que devia haver uma clarificação da situação do país o mais rapidamente possível", disse o deputado comunista António Filipe, em declarações nos Passos Perdidos da Assembleia da República, depois de anunciada a data das eleições.
O membro do Comité Central do PCP acrescentou que a escolha de Marcelo Rebelo de Sousa dá a sensação de que foi escolhida "em nome de conveniências" de "candidaturas a lideranças partidárias".
O BE insistiu hoje que legislativas antecipadas não eram "uma inevitabilidade" e que este não era o desejo do partido, mas defendeu que "nenhum democrata pode ter medo de eleições", recusando uma "guerra política" em torno da data escolhida.
Numa reação ao anúncio feito esta noite pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, começou por defender que este desfecho "não era uma inevitabilidade".
"O Presidente da República foi quem, ainda decorria o processo negocial, ameaçou com a existência de eleições antecipadas e foi, da parte do Governo, o senhor primeiro-ministro quem não pretendeu ter no processo de discussão do Orçamento do Estado, um orçamento capaz de responder ao país. Da parte do Bloco de Esquerda, nós não desejámos eleições e sempre tivemos como vontade garantir um orçamento que não faltasse ao país neste momento fundamental", criticou.
No entanto, para Pedro Filipe Soares "nenhum democrata pode ter medo de eleições" e, por isso mesmo, os bloquistas estão "disponíveis para fazer esse percurso".
O PS, por sua vez, afirmou que "compreende e respeita" a decisão do Presidente da República, adiantando que não haverá "vazio de poder", e apelou à mobilização para esse ato eleitoral.
Estas posições foram transmitidas pelo secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro. Na sua declaração inicial, o "número dois" da direção dos socialistas defendeu que o seu partido "tudo fez para evitar esta crise política, procurando, até ao limite do que considerou ser o interesse nacional, alcançar um acordo para a aprovação do Orçamento de Estado".
"Os partidos rejeitaram as propostas do Governo sabendo que o Presidente da República havia anunciado que convocaria eleições se o orçamento fosse reprovado", observou logo a seguir. Neste contexto, José Luís Carneiro concluiu: "Compreendemos e respeitamos a decisão do senhor Presidente da República".
Para o líder do Chega, 30 de janeiro é uma "data aceitável" para as eleições legislativas por permitir que os debates televisivos não coincidam com a época festiva.
André Ventura afirmou que a data não corresponde à que o partido "preferia" e "tinha indicado", mas compreende os argumentos apresentados por Marcelo Rebelo de Sousa quanto à necessidade de "haver algum espaço para debates, nomeadamente debates televisivos" e evitar que "isso cruzasse com o período do Natal e do Ano Novo".
"Por isso, parece-nos que a data de 30 de janeiro, não sendo a data que estava consensualizada pelos partidos representados aqui no parlamento, possa ser uma data aceitável", frisou.
A Iniciativa Liberal considerou que a data de 30 de janeiro anunciada pelo Presidente da República para as eleições legislativas antecipadas é "correta e razoável" para que haja um "cabal esclarecimento das opções que estão perante os portugueses".
O deputado único da Iniciativa Liberal falava aos jornalistas na Assembleia da República momentos depois da declaração ao país de Marcelo Rebelo de Sousa, na qual anunciou que vai dissolver o parlamento e marcar eleições legislativas antecipadas para 30 de janeiro.
"Como dissemos desde o início, a Iniciativa Liberal estaria preparada para eleições qualquer que fosse a data, estamos habituados a trabalhar sobre pressão e com poucos recursos, mas entendemos que para um cabal esclarecimento das opções que estão perante os portugueses a data fixada pelo senhor Presidente da República de 30 de janeiro é uma data correta, uma data razoável", declarou.
Cotrim de Figueiredo considerou ainda que na comunicação ao país, o chefe de Estado "fez três leituras que coincidem em tudo com o que a Iniciativa Liberal pensa também".
"A primeira leitura é que a solução governativa que tivemos desde 2015 ruiu, ruiu por divergências bem mais profundas do que aquelas que resultavam apenas da discussão do Orçamento para 2022 e que portanto é urgente dar voz de novo aos portugueses", enumerou.
A segunda, considerou, "é que a decisão que nessa eleição terá que ser tomada pelos portugueses merece uma campanha esclarecedora, que não é compatível com calendários que coincidam com a quadra festiva".
Para a IL, "começar debates na altura do Natal e do Ano Novo não seria certamente um bom serviço prestado ao esclarecimento que os eleitores vão precisar, nem seria uma forma de combater a abstenção".
"A terceira leitura é que chegados a uma situação de crise que ninguém desejava, a democracia tem sempre soluções e temos que encarar estas situações com normalidade, serenidade e com sentimento de esperança, também porque vamos ser chamados de novo a decidir sobre o nosso futuro coletivo", sustentou.