O PCP anunciou, esta quarta-feira, que os seus deputados não estarão presentes na sessão solene da Assembleia da República (AR) em que discursará o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. A líder parlamentar comunista, Paula Santos, afirmou que este é um "ato de instrumentalização de um órgão de soberania" que dificulta o caminho da paz e "contribui para animar a escalada da guerra".
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"O PCP não participará numa sessão da AR concebida para dar palco à instigação da escalada da guerra, contrária à construção do caminho para a paz", afirmou Paula Santos, no Parlamento.
A deputada considerou que Zelensky "personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi, incluindo de caráter paramilitar, de que o chamado Batalhão Azov é exemplo".
O referido regimento, recorde-se, está incorporado nas Forças Armadas ucranianas desde 2015, um ano após a revolta pró-ocidental de Maidan. A parlamentar comunista frisou que, desde então, este "ataca e massacra a própria população ucraniana no Donbass", numa guerra que, em oito anos, já vitimou mais de três mil civis.
Paula Santos também defendeu que a Ucrânia pratica uma política de "discriminação com base na língua", referindo-se à situação vivida pelos ucranianos russófonos no Leste do país. A ilegalização do Partido Comunista Ucraniano, bem como de praticamente todas as forças de Esquerda, foi outro dos motivos avançados para justificar a ausência dos seis deputados comunistas.
Descrevendo a situação na Ucrânia como "grave" e "preocupante", a líder parlamentar preconizou uma "solução negociada" para o fim da guerra, acusando os EUA, a União Europeia e a NATO de tomarem sucessivas decisões que dificultam esse caminho. "A política de instigação do confronto só levará ao agravamento do conflito", frisou, antevendo "dramáticas consequências" para ucranianos, russos e para a Europa em geral.
A líder parlamentar garantiu ainda que o PCP "não tem nada a ver com o Governo russo e o seu presidente". A este respeito esclareceu que, com o fim da União Soviética, a Rússia fez uma "opção de classe" diferente daquela que defendem os comunistas.
Zelensky fala por videoconferência à AR às 17 horas desta quinta-feira, numa cerimónia em que estarão presentes o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa.
No entanto, para além do chefe de Estado ucraniano, apenas o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, usará da palavra.