A Zero (ONG ambientalista) apelou ao Ministério do Ambiente e da Ação Climática a criação de um sistema nacional de recolha para os 250 milhões de seringas e agulhas consumidas anualmente em Portugal por doentes que administram medicamentos injetáveis em casa.
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A associação Zero alerta que o descarte incorreto de seringas e agulhas acarreta riscos tanto ao nível da saúde pública como do ambiente. Um estudo da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), divulgado esta sexta-feira, revela que a maioria dos diabéticos deposita as agulhas e lancetas no lixo comum indiferenciado.
"Estes resíduos têm características de perigosidade equivalentes às dos resíduos corto-perfurantes com origem hospitalar, os quais são considerados perigosos. Contudo, não podendo ser entregues nas farmácias, hospitais ou centros de saúde, acabam no lixo doméstico", alertou a Zero, salientando ainda o perigo que estes resíduos representam para os trabalhadores afetos aos serviços de recolha e tratamento dos resíduos urbanos.
A este propósito, um estudo da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), revelou que a maioria dos diabéticos deposita as agulhas e lancetas no lixo comum indiferenciado, o que, alertam, é uma prática "incorreta, perigosa e representa um importante problema de saúde pública".
Ao auscultar cerca de 1500 diabéticos de quatros concelhos da região Norte, o grupo de investigação concluiu que 68,1% das agulhas ou dispositivos com agulhas e 71,6% das lancetas foram depositadas no lixo comum e que apenas menos de 20% desses materiais foram devidamente entregues em instituições de saúde.
Empresas devem custear
A Zero defendeu que a responsabilidade para solucionar este problema é das autarquias. Apontou ainda que, tendo em conta o artigo 45º do DL 102-D/2020, os sistemas municipais devem disponibilizar, até 1 de janeiro de 2025, uma rede de pontos ou centros de recolha seletiva para os resíduos urbanos perigosos da sua responsabilidade, de forma a não contaminar outros fluxos de resíduos, onde inclui as agulhas e seringas de origem doméstica. Assim, defendeu que o sistema nacional que advoga pode vir a ser financiado pelos municípios ou pelas empresas que colocam os materiais utilizados em autocuidados no mercado.
Como possíveis soluções para este problema, os autores do estudo da FMUP apontam para o descarte das agulhas e lancetas "em contentores próprios para corto-perfurantes com uma tampa", entregues aos diabéticos aquando da prescrição terapêutica pelo seu médico, enfermeiro ou farmacêutico, bem como a aposta em estratégias de educação e consciencialização do tema junto dos profissionais de saúde e dos próprios doentes.
Já a Zero referiu o sucesso do projeto "Seringas só no agulhão", de recolha nas farmácias de corto-perfurantes com origem em autocuidados, criado em 2019, pela Associação de Farmácias de Portugal (AFP). De acordo com a Zero, até ao momento, esta iniciativa já recolheu mais de 1 milhão de seringas e agulhas usadas, em apenas 50 farmácias, o que levou a AFP a alargar este projeto a todas as suas farmácias associadas, suportando todos os custos inerentes.