Chamadas para a Linha Voz Amiga crescem desde a pandemia. Em 2024 houve uma média de 1100 chamadas por mês.
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Há cada vez mais crianças e jovens entre os 12 e os 16 anos a procurar ajuda nas linhas de prevenção do suicídio. As chamadas feitas nestas idades, que antes da pandemia “eram residuais”, são agora mais recorrentes, alerta o presidente da Linha Voz Amiga.
“Os relatos dos voluntários dizem-nos que normalmente são filhos de pais separados. São crianças que vivem em famílias desestruturadas, outras que são vítimas de bullying, e que não têm o devido apoio em casa”, sublinha Francisco Paulino. À semelhança do que já acontece com adultos, algumas destas crianças e jovens ligam com frequência, na esperança de encontrar um acompanhamento que o serviço, por limitações operacionais, não consegue garantir.
“Necessidade urgente”
E o facto de “sentirem necessidade de ligar, quando o telefone é normalmente um meio pouco atrativo” para estas faixas etárias, evidencia a gravidade da situação: “É mais do que evidente que a pressão sobre eles está a aumentar. Estamos a falar de crianças que se sentem perdidas, sem saber a quem recorrer”, alerta o responsável do serviço.
No caso dos estudantes universitários, é sobretudo a “incerteza do futuro” que os faz procurar ajuda. “Quando nos ligam, mostram-se um pouco perdidos e ansiosos, com receio do futuro, por não saberem se vão ter garantido um emprego e condições que lhes permitam constituir família. A nossa realidade económica assusta-os.”
A pandemia veio marcar uma tendência crescente dos pedidos de ajuda: em geral, as chamadas atendidas pela Linha Voz Amiga aumentaram quase 50% desde 2019, sendo que o serviço responde, em média, a mais de dez mil solicitações por ano. A média de chamadas por mês subiu de 600, em 2019, para 1100, em 2024. O número poderia ser bastante superior caso existissem mais recursos, explica o dirigente, já que em cada chamada atendida há várias tentativas em simultâneo.
Para Francisco Paulino, os números são sinal de uma “necessidade urgente” de ser criada uma linha de apoio nacional. O serviço gratuito, que deverá funcionar em articulação com o serviço de aconselhamento psicológico da linha SNS 24, voltou agora a ser adiado devido à crise política. O atual Executivo previa que a linha estivesse a funcionar em março passado.