<p>O ano 2010, prestes a findar, foi difícil para a Igreja Católica, como confirma Bento XVI, por causa, sublinha, da dimensão "inimaginável" atingida pelos escândalos de abusos sexuais envolvendo membros do clero, que o Papa classifica como uma "humilhação".</p>
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"Fomos abalados quando, precisamente neste ano (ano sacerdotal, recorda-se, convocado pelo Papa), numa dimensão para nós inimaginável, tivemos conhecimento de abusos cometidos por sacerdotes contra menores", declarou.
No encontro anual com a Cúria Romana, para a troca de saudações natalícias, no Vaticano, o Papa assegurou que a Igreja é chamada a viver essa "humilhação" como apelo à "verdade" e à "renovação".
"Sob o manto do sagrado", disse, tais abusos "ferem profundamente a pessoa humana na sua infância e provocam-lhe danos para toda a vida".
"Temos de interrogar-nos sobre o que é estava errado no nosso anúncio, em todo o nosso modo de configurar o ser cristão, para que tal possa ter acontecido", frisou.
Bento XVI lembrou uma visão da mística Santa Hildegarda de Bingen - nascida no ano de 1098, em Bermersheim, actual Alemanha, e falecida em 1179 - na qual se falava do rosto da Igreja "coberta de pó".
"Assim a vimos. A sua veste rompeu-se, por culpa dos sacerdotes", referiu.
Após afirmar que "só a verdade salva", o Papa pediu que se façam todos os esforços para "reparar o mais possível a injustiça cometida". Insistiu: "Precisamos de encontrar uma nova determinação na fé e no bem. Temos de ser capazes de penitência" .
O Papa deixou uma palavra de estímulo aos "bons sacerdotes", que, mesmo em situação de tamanha crise, "transmitem com humildade e fidelidade a bondade do Senhor e, no meio das devastações, testemunham a beleza, não perdida, do sacerdócio".
Bento XVI aludiu ainda à realização, em Outubro, de um Sínodo para o Médio Oriente, reafirmando que no mundo de hoje "os cristãos são a minoria mais oprimida e atormentada".
O final do discurso foi dedicado à "inesquecível" viagem ao Reino Unido, em Setembro, que culminou com a beatificação do cardeal John Henry Newman, convertido do anglicanismo.
O Papa incluiu a sua visita a Portugal (11 a 14 de Maio de 2010) no lote das "significativas viagens" que fez em 2010, afirmando que aqui, como em Malta e Espanha, "foi novamente visível que a fé não é uma coisa do passado, mas um encontro com o Deus que continua a viver e agir".