Pedro Nuno acusa Montenegro de insultar democracia com ameaça sobre lei da greve
O secretário-geral do PS considerou inaceitável o “insulto à democracia” que acusou o primeiro-ministro de ter feito com a “ameaça de alterar a lei da greve” devido à paralisação na CP, assegurando que “não passarão”.
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Ao quinto dia oficial de campanha, o secretário-geral socialista tocou bombo e pandeireta na Covilhã, tirou selfies e piscou o olho aos eleitores de esquerda, reforçando o apelo à concentração de votos no PS. Ao som de bombos e de cânticos como “o povo não esquece, dia 18 é no PS” e “Pedro, amigo, a Covilhã está contigo”, o líder socialista percorreu o centro da Covilhã, distrito Castelo Branco, num contacto com a população em que contou com a presença do presidente do PS, Carlos César.
Animado com a receção, Pedro Nuno Santos tocou bombo e pandeireta, distribuiu beijinhos e lembrou o vídeo partilhado nas redes sociais em que o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, pergunta se alguém conhece algum deputado de Castelo Branco.
“E apanhou logo um cidadão de Castelo Branco, aqui da Covilhã, que disse sim, conheço, o Nuno Fazenda que é um grande deputado e que tem defendido muito bem o distrito na Assembleia da República. O Nuno fazenda é este senhor que foi secretário de Estado do Comércio e do Turismo e que o povo conhece”, afirmou, apontando para o cabeça de lista pelo PS no distrito às legislativas.
A propósito, Pedro Nuno Santos acrescentou: - “Aliás, aproveito para “apelar ao voto de muitos cidadãos que votam à esquerda aqui no distrito para votarem no PS. Obviamente, os outros partidos não têm hipótese de conseguirem eleger aqui um deputado, mas o PS tem hipótese de eleger mais um e isso é um grande contributo para derrotarmos a AD”.
Nos últimos anos, o PS tem dominado o círculo eleitoral de Castelo Branco, onde conseguiu eleger três deputados nas legislativas de 2019 e 2022, panorama que mudou em 2024, com os socialistas a perderem um mandato.
O líder socialista cruzou-se ainda com um cidadão que garantiu sempre ter votado em Mário Soares e PS e que lembrou os investimentos concretizados no distrito pelos governos socialistas.
“Ouviram? No distrito de Castelo Branco quem fez a maior parte dos investimentos foram os governos do PS. Quero que o distrito de Castelo branco saiba que pode continuar a contar connosco”, retorquiu o líder socialista.
A uma pensionista que disse ter uma reforma de 300 euros e “apenas um aumento de sete euros” respondeu: - “Temos que ganhar as eleições para podermos melhorar as reformas”.
Montenegro "chantageia e ameaça" trabalhadores
“Aquilo que o primeiro-ministro faz em plena greve é chantagear, é ameaçar os trabalhadores portugueses de uma alteração à lei da greve. Isso é inaceitável e eu quero dizer que não passarão”, respondeu aos jornalistas Pedro Nuno Santos durante o arranque de uma arruada na Covilhã.
Para o líder do PS, esta declaração do primeiro-ministro “é um insulto à democracia”. “Há uma greve a decorrer com uma adesão de 100%. O Governo falhou na negociação e agora quer responsabilizar os sindicatos, os partidos”, condenou, admitindo que “não queria acreditar” naquilo que ouviu.
O presidente do PSD e primeiro-ministro, Luís Montenegro, considerou hoje que houve “influências políticas, partidárias e eleitorais” que não permitiram evitar a greve da CP e defendeu que pode ser necessário alterar a lei para equilibrar o direito è greve com outros direitos.
Posição de Montenegro é "afronta à democracia"
Na opinião de Pedro Nuno Santos, esta posição do presidente do PSD "é uma afronta à democracia, é uma afronta a uma das maiores conquistas de Abril que é o direito dos trabalhadores se poderem organizar para reivindicar os seus direitos". "Revela autoritarismo, revela desrespeito pelos direitos dos trabalhadores, revela desrespeito por um dos direitos mais elementares de um Estado de direito", acusou.
Para o líder do PS, Montenegro "só se pode queixar do seu próprio Governo". "O PS há um ano fez uma campanha com protestos permanentes, por exemplo das forças de segurança. Nunca na vida ouviriam um líder do PS dizer que é preciso pôr ordem, que é preciso rever a lei da greve", disse.
Reiterando uma ideia que já tinha defendido a véspera, em Évora, de que esta paralisação de 100% não era possível só com dirigentes sindicais, Pedro Nuno Santos defendeu que "uma greve resolve-se com muito diálogo".
"Como eu consegui resolver a greve dos motoristas de matérias perigosas [em 2029]. Isso exige diálogo, exige trabalho, não é com ataques à democracia", enfatizou, reiterando que "uma das maiores vitórias de Abril é o direito à greve".
Protestar contra direito à greve é "inaceitável"
Na opinião do líder da oposição, é "impensável, inaceitável que um primeiro-ministro" queira "protestar contra o direito à greve" porque "está incomodado com uma greve em plena campanha", apontando que, há um ano, quando era o PS que estava no Governo, Montenegro "não estava incomodado com os protestos que existiam" em relação ao anterior executivo.
A paralisação da CP, que se prolonga até 14 de maio, foi convocada contra a imposição de aumentos salariais “que não repõem o poder de compra”, pela “negociação coletiva de aumentos salariais dignos” e pela “implementação do acordo de reestruturação das tabelas salariais, nos termos em que foi negociado e acordado”, segundo os sindicatos.
A greve teve um especial impacto entre terça-feira e hoje devido ao maior número de sindicatos (14) que aderiram à paralisação nestes dias. Por decisão do Tribunal Arbitral, estas greves não têm serviços mínimos.