O líder socialista, Pedro Nuno Santos, defendeu esta quinta-feira que a confiança num projeto político depende da confiança na liderança, antecipando que será entre PS e PSD que se vai decidir “a saúde da democracia” e o desenvolvimento do país.
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Após a declaração do país do presidente da República, na qual foi anunciada a decisão de dissolver o parlamento e convocar legislativas antecipadas, Pedro Nuno Santos afirmou que o “PS não desejava eleições”, mas que estas são a única forma de clarificar a situação e que “não podem ser consideradas um estorvo”.
Para o secretário-geral do PS, a confiança num projeto político “depende da confiança na liderança” e “será entre o PS e o PSD que se vai decidir a saúde da democracia e o desenvolvimento do país”.
Afirmando que o PS deu, "desde o início desta legislatura, todas as condições para que este Governo pudesse governar", Pedro Nuno Santos apontou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, como a origem desta crise política, não só porque o caso o envolve, como houve "uma fuga às explicações" e a decisão de apresentar a moção de confiança no parlamento que já sabia que seria chumbada.
Segundo o líder do PS "o momento é grave" e, "mais do que uma escolha momentânea", os portugueses estarão a escolher "um governo duradouro, com condições para que não esteja a prazo".
"Este Governo não entrou esta semana em gestão. Entrou quando se esgotou o excedente orçamental. Não há nenhuma transformação em curso, não há propósito, não há desígnio. O que o senhor primeiro-ministro diz que está bem hoje era o que já estava bem há um ano. Quando o Governo socialista caiu em 2023, a economia crescia mais depressa do que cresceu em 2024", defendeu.
Pedro Nuno Santos disse estar "focado no futuro" e quer que "os portugueses percebam, sintam e saibam que podem confiar no Partido Socialista".
O compromisso do PS é com a transformação da economia para que "o povo português possa ter melhores salários", prometendo que "cuidará do Estado Social e defenderá o Serviço Nacional de Saúde" e que terá "uma política de habitação que seja para todos e não apenas para alguns".
"Um Governo que seja para a maioria da população e não apenas para uma minoria", disse.
Sobre a campanha que fará, o líder socialista antecipou que quer "discutir o país, os seus problemas e as propostas para os resolver".
"Porque o que aconteceu nas últimas três semanas e o que nós temos vindo a saber é suficientemente grave para não ignorar. E nós optamos por não ignorar. E não ignorámos. A ética na política é fundamental, mos problemas deste governo não são só estas últimas três semanas", disse, acusando o executivo de incompetência em várias áreas, desde logo na saúde.
Pedro Nuno Santos falou aos jornalistas no Largo do Rato numa sala diferente e com uma nova imagem de fundo, um quadro do artista plástico português Pedro Calapez, e sem a habitual imagem partidária atrás, tendo o símbolo do PS surgido apenas no púlpito transparente.
Chega considera que Marcelo responsabilizou Montenegro
O presidente do Chega considerou que o presidente da República responsabilizou o primeiro-ministro pela crise política na sua declaração ao país e a IL afirmou que Marcelo Rebelo de Sousa fez um “diagnóstico correto” da situação atual.
O presidente do Chega, André Ventura, considerou que Marcelo Rebelo de Sousa, no seu discurso de hoje, assumiu que a crise política é da responsabilidade do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e que o chefe de Estado “foi muito claro” ao deixar o ónus da crise no líder do Governo e não nos partidos da oposição.
“Basta ouvir atentamente o que disse hoje o presidente da República e acho que fica muito claro que a responsabilidade do primeiro-ministro Luís Montenegro não foi acautelada, que não esteve ao nível e à altura das circunstâncias e que, sobretudo, não soube aplicar para si aquilo que sempre aplicou para os outros”, defendeu André Ventura, em declarações aos jornalistas no parlamento.
Sobre o pedido do chefe de Estado para a próxima campanha, André Ventura garantiu que o Chega irá abordar os temas que interessam aos portugueses como a “crise de habitação dos que não conseguem comprar casa” ou a “luta contra a corrupção” e que a mensagem do partido não se vai centrar na “falta de integridade do primeiro-ministro ou das suspeitas”.
IL concorda com diagnóstico de Marcelo
A líder parlamentar da IL e candidata presidencial, Mariana Letião, considerou que o presidente da República fez um diagnóstico correto sobre a atual situação política e argumentou que “é óbvio que tudo aquilo que se viveu nos últimos tempos fragiliza o primeiro-ministro”.
“Por isso mesmo também é que entrámos neste cenário de eleições antecipadas, mas agora temos dois meses pela frente, queremos fazer uma campanha pela positiva, queremos apresentar soluções aos portugueses, é esse o compromisso da Iniciativa Liberal”, acrescentou.
A deputada liberal garantiu ainda que os liberais farão uma “campanha pela positiva, focada em apresentar soluções” com o objetivo de “devolver a esperança e a ambição aos portugueses”.
CDS-PP fala em "escalada destrutiva"
O líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, defendeu que a atual crise é da “inteira e exclusiva responsabilidade das oposições” por rejeitarem uma moção de confiança “numa escalada destrutiva completamente irresponsável”
Núncio disse estar “absolutamente convencido” de que os portugueses “acabarão por reconduzir este Governo” e garantiu que os centristas terão uma “campanha eleitoral serena, civilizada, decente”, apelando aos “partidos dos extremos” eu”consigam elevar o debate”.
"É muito importante que os portugueses saibam escolher com rigor, com serenidade, com tranquilidade, soluções seguras, confiáveis e que permitam governar o país com conhecimento, com competência, mas também com decência", disse o deputado centrista.
BE pede que Marcelo vigie executivo
Em declarações aos jornalistas no parlamento, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, começou por contrariar a tese do presidente da República, negando que tenha estado em causa “um conflito de opiniões em que uns entenderam que havia um problema ético” relacionado com o primeiro-ministro, “e outros entenderam que não havia”.
Mariana Mortágua reagia ao discurso do presidente da República, que anunciou hoje a marcação de legislativas antecipadas para 18 de maio, após a queda do Governo.
“Há de facto um problema ético que redunda no facto de o primeiro-ministro receber avenças através de uma empresa que está na sua esfera pessoal e não ter querido prestar mais esclarecimentos, nem fornecer os dados e as informações dessa empresa”, considerou Mariana Mortágua.
A coordenadora bloquista defendeu ainda que Marcelo Rebelo de Sousa “tem o dever de garantir que o Governo não extravasa as suas funções e os poderes que tem” enquanto está em gestão.
Quanto ao partido, disse que vai fechar as listas de deputados nos próximos dias e fará uma campanha “para resolver impasses” como a crise na habitação ou os baixos salários.
CDU "não vai desperdiçar a oportunidade"
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, garantiu que a CDU “não vai desperdiçar a oportunidade de levar para o debate eleitoral a vida difícil e as dificuldades que atravessa a maioria do povo, as soluções que dizem respeito aos salários, às pensões, ao acesso à habitação, ao Serviço Nacional de Saúde, direitos das crianças e dos pais”.
Após alguns alertas deixados por Marcelo Rebelo de Sousa sobre a necessidade de preservar o regime democrático, Paulo Raimundo salientou que apenas se salvaguarda a democracia respondendo a “problemas concretos” como aumento de salários e pensões.
Paulo Raimundo considerou que o presidente da República, “ao incidir uma parte da sua intervenção em torno do caso em concreto” que envolve o primeiro-ministro “acabou por, talvez de forma direta, sublinhar as responsabilidades que o Governo tem no seu próprio caminho”.
O comunista salientou, contudo, que as divergências do seu partido com o Governo não se limitam a este caso, estando também em causa um “combate político-ideológico”.
Livre já tinha avisado sobre "crise de regime"
Pelo Livre, o porta-voz Rui Tavares lembrou que já desde as legislativas do ano passado afirmou que Portugal podia estar perante “uma crise de regime” e não apenas política, alertando que cabe agora aos portugueses “evitar que esta crise ética e individual do primeiro-ministro se transforme numa verdadeira crise de regime em todos os seus elementos e à vista de todos”.
“Esperamos que esta campanha possa ser esclarecedora nesse sentido, que possa haver alternativas, que não passemos o tempo todo da campanha eleitoral num debate de atirar culpas de uns para os outros, mas que se discuta verdadeiramente as necessidades do país, a crise europeia e internacional, e que assim o país possa evitar uma crise pior ainda do que aquela que já vivemos e do que a anterior”, apelou.
PAN diz que Montenegro falhou
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que “ficou claro das palavras” do presidente da República que o “único responsável” pela atual crise política é o primeiro-ministro, acusando-o de ter “falhado para com os portugueses”.
A deputada defendeu que “as pessoas precisam de sentir que as suas vidas avançam”, esperando que o debate eleitoral “não fique minado” pela polémica sobre os eventuais conflitos de interesse do primeiro-ministro, bem como de casos de outros partidos, referindo-se ao Chega e a “questões de alegada pedofilia e outras situações igualmente graves”.