Pedro Nuno diz que não quis julgar publicamente Ricardo Leão mas não desvalorizou declarações
O secretário-geral do PS recusou esta quarta-feira ter desvalorizado as declarações do autarca socialista de Loures Ricardo Leão, frisando que apenas evitou fazer o seu "julgamento na praça pública" e resolveu a questão internamente.
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Em declarações aos jornalistas na sede nacional do PS, em Lisboa, Pedro Nuno Santos foi questionado sobre a demissão de Ricardo Leão da presidência da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, salientando que, quando comentou as declarações do autarca de Loures na segunda-feira, foi claro sobre "os valores e os princípios" do seu partido.
"Eu fui muito claro quando disse que todos os eleitos do PS estão comprometidos com a lei, com a Constituição, com o objetivo da reinserção social e com os princípios do humanismo, do respeito pelo outro e da empatia", disse, frisando que é assim "que têm de estar todos os eleitos" e rejeitando que tenha desvalorizado as declarações de Ricardo Leão.
"Não há, não houve nenhuma desvalorização. Eu não posso sequer aceitar essa ideia que tenha desvalorizado uma matéria que é central e quem me conhece, e acompanha a minha intervenção na vida política, sabe que, nestas matérias, eu não hesito um milímetro", referiu.
No entanto, Pedro Nuno Santos frisou que "um secretário-geral do PS não faz julgamentos na praça pública dos seus eleitos".
"Isso não é forma, não é pelo menos a minha forma de liderar o PS, de me relacionar com aqueles que são eleitos em nome do PS e, por isso, é possível nós conciliarmos uma posição clara, firme, sobre matérias que são identitárias do PS e, ao mesmo tempo, nós sabermos lidar com estas questões, mas lidar com elas internamente", disse.
Questionado se considera que Ricardo Leão tem condições para ser o candidato do PS à Câmara Municipal de Loures nas próximas autárquicas, em 2025, o líder do PS respondeu que não foi ele que o escolheu para candidato em 2021, numa alusão ao facto de ter sido o ex-primeiro-ministro António Costa.
"Ele foi eleito pela sua população e, obviamente, o julgamento político, a avaliação política do trabalho de Ricardo Leão deve ser feita pela população de Loures", salientou, antes de acrescentar que "Ricardo Leão é o atual presidente da Câmara Municipal de Loures e obviamente tem o direito de se poder apresentar perante a sua população e aí fazer-se a avaliação do seu trabalho enquanto autarca".
Interrogado se não se corre o risco de Ricardo Leão se apresentar como independente, caso lhe seja retirada a confiança política, Pedro Nuno Santos disse que não pretendia "elaborar sobre especulações".
"Nós temos um presidente de Câmara Municipal em Loures, como em muitos outros sítios no país, e os nossos presidentes de câmara em exercício, podendo ser reeleitos, serão recandidatos", afirmou.
Questionado se foi um artigo publicado hoje no Público, assinado, entre outros, pelo anterior secretário-geral do PS, António Costa, que motivou esta demissão, Pedro Nuno Santos respondeu: "O pedido de demissão do presidente da FAUL foi-me feito a mim ontem [quarta-feira] e, portanto, não na sequência de nenhum artigo".
"Resulta de uma reflexão do próprio presidente da FAUL e que me foi comunicada ontem", disse, antes de querer também responder ao facto de, no artigo, se defender que, "quando um dirigente socialista ofende gravemente valores, a identidade e a cultura do PS, não há calculismo taticista que o possa desvalorizar".
"Sobre o taticismo, quero dizer outra coisa: se há político em Portugal que não é tático, sou eu, e acho que isso me é reconhecido pela generalidade de quem acompanha a vida política portuguesa", disse, numa aparente alusão ao antigo primeiro-ministro António Costa.
O presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão, demitiu-se da presidência da Federação de Lisboa do PS para evitar que o partido seja prejudicado pela polémica suscitada pela aprovação de uma recomendação do Chega na autarquia.
A demissão acontece no dia em que o anterior secretário-geral do PS, António Costa, assinou um artigo no jornal Público, conjuntamente com os socialistas Pedro Silva Pereira e José Leitão, a demarcar-se da posição de Ricardo Leão.
"Quando um dirigente socialista ofende gravemente os valores, a identidade e a cultura do PS, não há calculismo taticista que o possa desvalorizar", escreveram.
No artigo, os três socialistas consideram que "além de violar grosseiramente as competências reservadas da Assembleia da República e dos tribunais, iria [os despejos] atingir, de forma manifestamente desproporcionada, o direito fundamental à habitação dos próprios e, por maioria de razão, dos inocentes que, integrando o respetivo agregado familiar, seriam colateralmente punidos apenas por residirem na mesma habitação".