Pedro Nuno Santos, o novo secretário-geral do PS, apelou à construção de um “Portugal inteiro”, realçando a importância dos jovens, mulheres, pensionistas e empresas. Num discurso sem rasgo, disse que vem para tomar decisões e não “para arrastar os pés”.
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Na intervenção de vitória, Pedro Nuno deixou uma farpa ao PSD: “Nós não inventamos grupos de trabalho em cima de comissões. Nós decidimos”, disse, referindo-se à questão do novo aeroporto de Lisboa. Garantiu ainda que irá bater-se pela regionalização.
Pedro Nuno venceu as eleições internas com 62% dos votos – menos do que os 68% obtidos por Costa da primeira vez que foi eleito líder, em 2014. José Luís Carneiro ficou-se pelos 36% e Daniel Adrião pelos 2%. Uma noite eleitoral acompanhada pelo JN ao minuto, e que pode recordar aqui.
O antigo ministro das Infraestruturas, que ganhou 18 das 21 federações do partido, fez um discurso transversal, embora pouco arrebatador. Não abriu o jogo quanto a uma nova geringonça, pedindo “um grande resultado” nas legislativas de 10 de março.
Entre as federações ganhas por Pedro Nuno conta-se Lisboa, em que venceu com 67%, o Porto (a maior do país, que chegou a ser presidida por Carneiro), com 58% e Braga, com 55%. Carneiro apenas venceu no Oeste, Vila Real e Madeira.
José Luís Carneiro foi ao Rato discursar antes de Pedro Nuno. Não se cruzou com o vencedor mas afastou qualquer mal-estar: “Agora é o tempo dele”, justificou, revelando que estará ao seu lado na campanha.
Elogios a Soares e Costa
No seu discurso, Pedro Nuno lembrou Mário Soares e disse ter “muito orgulho” em ter estado ao lado de Costa “desde a primeira hora”, cuja experiência e sagacidade garantiu que irá aproveitar. Frequentemente acusado de ser radical, declarou-se “sempre, sempre europeísta”, embora prometendo intervenções “críticas” quando achar pertinente.
Sobre Carneiro, vai trabalhar para encontrar "espaço” para o integrar nos desafios futuros do partido.“Nós queremos que ele esteja na campanha, como é óbvio”, assegurou, considerando que foi apenas um adversário "circunstancial".
Questionado sobre a possibilidade de uma nova geringonça, Pedro Nuno atalhou: “Primeiro temos umas eleições para ganhar”. Apelou ao voto no PS em nome da “estabilidade”; depois, “consoante a configuração parlamentar, logo trataremos de econtrar uma solução governativa”, disse.
Aquém de Costa
Os 62% obtidos por Pedro Nuno estão um pouco abaixo dos 68% alcançados por Costa em 2014, quando este derrotou o então secretário-geral António José Seguro. Resultado semelhante já tinha ocorrido em 2011, ano em que Seguro (68%) derrotou Francisco Assis (32%).
Para encontrar um resultado consideravelmente mais expressivo em eleições em que houve mudança de líder é preciso recuar a 2004, quando José Sócrates se aproximou dos 80% frente a Manuel Alegre e João Soares. Costa ficou sempre acima dos 90% nas vezes em que foi reeleito.
Na manhã deste sábado foram divulgados os resultados provisórios de sexta-feira, que davam 64,1% a Pedro Nuno, 34,8% a Carneiro e menos de 1% a Adrião. Carneiro lamentou o sucedido logo depois de votar, considerando que se tratou de uma “forma de condicionamento” dos militantes.
Carneiro, que liderou a federação do PS Porto, sai com capital político para poder concorrer às autárquicas da Invicta, em 2025, se assim entender. O atual ministro já foi apontado como candidato em 2021, mas rejeitou. Daqui a dois anos Rui Moreira já não poderá ir a jogo, por ter atingido o limite de mandatos.
Daniel Adrião, o candidato menos votado, reconheceu ter ficado “aquém” do que esperava. Considerou que a proximidade das eleições legislativas “afunilou” o escrutínio socialista.