O líder do PS defendeu, nesta sexta-feira, que a Procuradora-Geral da República deve explicações ao país sobre a "violação da lei" na divulgação de escutas envolvendo o antigo primeiro-ministro António Costa, considerando insuficiente abrir um inquérito.
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No final de uma reunião com o presidente do Comité Económico e Social Europeu, Pedro Nuno Santos foi questionado sobre a entrevista da ministra da Justiça à Antena 1 na qual assumiu "um desconforto" com a utilização das escutas em processos judiciais, como as que visaram recentemente o ex-primeiro-ministro António Costa na Operação Influencer, sem que estivessem diretamente ligadas aos factos desse processo.
"Não podemos fazer de conta que não estamos a ter publicitadas na comunicação social conversas que não têm sequer relevância para o processo em causa e que estão a ser reveladas. Não podemos continuar a fazer de conta que não estamos a assistir a uma violação da lei", considerou.
Segundo Pedro Nuno Santos, a "única coisa" que houve por parte do Ministério Público foi "o anúncio da abertura de um inquérito", o que "não é suficiente".
"Eu diria que o Ministério Público deve essas explicações e obviamente que a figura máxima do Ministério Público é a sua Procuradora-Geral. Nós temos o direito a perceber o que está a acontecer, como é que pode acontecer uma violação destas", respondeu quando questionado se devia ser Lucília Gago a dar essas explicações.
Para o líder do PS, não se pode pactuar "com aquilo que está a acontecer" caso se queira preservar "a saúde do estado de direito e da democracia".
"Temos o direito a que haja uma explicação pública. Quando as coisa correm mal nas organizações que nós lideramos nós somos responsáveis por isso", apelou.
Na quarta-feira, o Ministério Público abriu uma investigação a fugas de informação no processo Influencer, depois de ter sido divulgada a transcrição de escutas a conversas telefónicas entre o ex-primeiro-ministro, António Costa, e o então ministro das Infraestruturas, João Galamba.
Segundo a informação divulgada por vários órgãos de informação, a investigação do MP visa as escutas divulgadas na terça-feira pela CNN Portugal, entre elas uma que apanha António Costa a ligar a João Galamba para ordenar a demissão da presidente executiva da TAP, por motivos políticos, depois da polémica indemnização de 500 mil euros à ex-administradora Alexandra Reis.
"Números políticos" como audição de Costa
O secretário-geral do PS criticou a aprovação da audição do antigo primeiro-ministro, considerando ser uma tentativa de instrumentalização do parlamento e a criação de "números políticos".
"O Grupo Parlamentar do PS - entre outros, não foi o único - votou contra e aquilo que me parece é que nós continuamos a querer instrumentalizar o parlamento para objetivos que não têm nada que ver com o inquérito em causa e isso é que é de lamentar", respondeu Pedro Nuno Santos aos jornalistas quando questionado sobre o facto de a comissão de inquérito ao caso das gémeas ter aprovado uma proposta do Chega para ouvir António Costa.
Para o líder socialista, o parlamento devia estar concentrado "em dar respostas aos problemas do país" e as comissões de inquérito que foram criadas "fazerem o seu trabalho".
"Mas não estarmos sempre à procura de inventar para criar dificuldades, para tentar fazer números políticos que criem dificuldades aos outros partidos", criticou.
Segundo Pedro Nuno Santos, não havendo "nenhuma perspetiva da participação do antigo primeiro-ministro nesse caso", o PS achou "que não fazia qualquer sentido" a audição de Costa e por isso votou contra esse requerimento do Chega.