Apelidado de “enfant terrible” do Governo de António Costa, Pedro Nuno Santos nunca escondeu a aproximação à ala esquerda do PS. Mesmo fora do partido, foi claro quanto ao seu posicionamento político. Sai da liderança do partido, com um dos piores resultados do PS numas legislativas.
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Em 2020, disse, em entrevista à RTP, que caso o seu partido não apoiasse qualquer candidato presidencial nas eleições de 2021, votaria num candidato do BE ou do PCP. "Eu nunca apoiarei um candidato da direita”, afirmou.
Conhecido pela frontalidade, ousadia e até impulsividade nas ações, Pedro Nuno Santos admitiu, em novembro de 2023, na apresentação da sua candidatura à liderança do PS, que os portugueses conheciam bem as suas “qualidades, defeitos, erros e cicatrizes”.
O sanjoanense de 48 anos já teve várias vidas na política: foi secretário-geral da Juventude Socialista (2004-2008), presidente da Federação de Aveiro do PS (2010 e 2018) e enquanto deputado esteve como vice-presidente do grupo parlamentar do PS, além de ter coordenado os socialistas durante a comissão parlamentar de inquérito ao grupo BES.
Gestor das boas relações da gerigonça
Pela mão de António Costa, chegou a secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares em 2015, tendo ficado responsável por gerir as relações entre a gerigonça (acordo entre PS, PCP e BE), conceito que, aliás, Pedro Nuno Santos detesta, confirmou-o no programa “Bom Partido” do humorista Guilherme Geirinhas.
“O neto de sapateiro e filho de empresário” de São João da Madeira, como chegou a afirmar sobre si próprio, chegou a ministro das Infraestruturas e da Habitação em 2019. Depois da polémica indemnização milionária da TAP a Alexandra Reis, então secretária de Estado do Tesouro, confirmada por WhatsApp, e da publicação do despacho sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, à revelia de António Costa, Pedro Nuno Santos demitiu-se do Governo socialista em dezembro de 2022.
Nos meses seguintes foi comentador político na televisão e regressou ao Parlamento como deputado. Participou ainda na comissão parlamentar de inquérito à gestão política da TAP. Em dezembro de 2023, ganha a liderança do PS contra José Luís Carneiro.
Enquanto líder do PS, perdeu as primeiras legislativas em 2024 e, a bem da estabilidade, segundo defendeu, negociou a escolha do presidente da Assembleia da República com o PSD, deixou passar o programa de Governo e o Orçamento do Estado da AD.
Não ser um "estorvo"
A moderação e a conciliação não foram possíveis de alcançar com o Governo da AD, após se conhecer a polémica da Spinumviva, a empresa familiar de Luís Montenegro. Para Pedro Nuno Santos, os portugueses querem, como primeiro-ministro, “alguém que não tem a pairar sobre si um manto de suspeitas”, afirmou em março deste ano.
Não seria bem-sucedido, pela segunda vez, numas legislativas. O PS teve uma piores derrotas da sua História desde o 25 de Abril. Ficou pouco acima dos resultados de 1985 e de 1987. Pedro Nuno Santos não esconde que continuará a dizer o que pensa sobre o país e o próprio partido. Sai de cena para não ser um “estorvo”, garante.