O futebolista português Pepe vai apoiar com 18 mil euros uma bolsa de investigação clínica a um investigador do Laboratório Associado RISE – Rede de Investigação em Saúde. O coordenador do laboratório acredita que os fundos doados pelo jogador podem vir a incentivar mais atletas a seguirem o exemplo.
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Képler Laveran de Lima Ferreira, mais conhecido como Pepe, vai dar nome a uma nova bolsa de investigação, com a duração de 12 meses e um apoio de 18 mil euros, que deverá ser atribuída, por concurso interno, a um dos investigadores do RISE, o primeiro grande laboratório associado dedicado especificamente à investigação clínica e de translação em Portugal. “A ideia é que a bolsa estimule a investigação, mas também uma interação entre as diferentes linhas temáticas e unidades de investigação do laboratório, para melhorar a comunicação entre os investigadores e produzir melhor investigação”, sublinhou, ao JN, Fernando Schmitt, coordenador do RISE.
Para essa articulação ser possível, a proposta de projeto dos candidatos deve envolver pelo menos duas das cinco áreas científicas a que o laboratório tem dedicado a sua investigação: as ciências cardiovasculares, oncologia, doenças inflamatórias e degenerativas, a saúde de dados digital e a saúde comunitária e desafio sociais, explicou.
Além do contributo para a produção científica e a obtenção de novos resultados, o investigador responsável acredita que a bolsa do defesa do F. C. Porto poderá incentivar, no futuro, mais atletas a apoiarem doações como esta, especialmente quando apoios para a investigação em Portugal, fora os vêm de financiamento do Estado, são “um evento raro”.
“Com a bolsa, uma das nossas intenções é chamar a atenção de que esta é uma área na qual os atletas poderiam colaborar mais. A atitude do Pepe é uma atitude muito louvável porque, além do valor e significado para o nosso laboratório, tem um grande significado para a investigação de uma forma geral ao atrair a atenção do público”, afirmou Fernando Schmitt.
E mesmo os apoios estatais não são suficientes para fomentar a investigação clínica, uma das áreas da ciência portuguesa cujo potencial não é aproveitado no seu máximo devido a essa carência. “É mesmo preciso mais financiamento para a investigação clínica, o que traria benefícios imediatos ao Serviço Nacional de Saúde e aos utentes”, advertiu o investigador, acrescentando que, além dos salários, um dos fatores de insatisfação dos médicos nos grandes hospitais é não terem a oportunidade de desenvolver investigação clínica porque “não há fundos nem tempo”.
O investigador acredita que o laboratório foi escolhido pela sua missão de fortalecer a investigação clínica em saúde em Portugal, mas também pela sua filosofia de trabalho em rede. “O que acontece muitas vezes em Portugal é que temos um vizinho numa sala ao lado que trabalha numa determinada área e vamos à procura de ajuda no estrangeiro porque nem sabemos que há alguém a trabalhar nisso. Em rede, aproveitarmos equipamentos e infraestrutura pessoal que está dispersa em várias unidades e que podem, eventualmente, trabalhar em articulação. A ideia do laboratório é essa, ser uma rede. Dentro da rede, seja no IPO no Porto ou em Lisboa, percebemos quem têm o pessoal que pode ajudar nos projetos”, exemplificou.
Embora estejam fisicamente distantes, o laboratório tem centenas de investigadores da área da saúde, bem como outras, que trabalham em conjunto, membros do Centro Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) e da Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular (UnIC), duas unidades de investigação instaladas na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL), na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), e o Centro de Investigação do IPO-Porto.
O RISE, sediado na FMUP, criado em 2021, resultou da união de duas faculdades médicas, uma unidade hospitalar e quatro centros de investigação. Foi o primeiro grande laboratório associado dedicado à investigação clínica e à transplantação em Portugal, desenvolvendo investigação que pode ser aplicada quer no contexto clínico como na comunidade, ao serviço dos doentes e da sociedade.
Os candidatos à bolsa do camisola três da seleção nacional devem ter o grau de doutoramento (ou estar inscritos) e ter experiência comprovada em trabalhos de investigação científica ou aplicada nas áreas. O candidato escolhido para esta bolsa vai ter de desenvolver um trabalho que englobe, pelo menos, duas linhas temáticas do RISE, na tentativa de promover a filosofia do Laboratório Associado, de fazer com que "diferentes áreas de investigação falem melhor entre si e de produzir melhor investigação”. O concurso abre esta quarta-feira até 20 de dezembro. Depois de avaliados e selecionadaos, espera-se que os trabalhos possam começar no início do próximo ano, em abril.
A Bolsa Pepe é apresentada esta quarta-feira, pelas 14.30 horas, no auditório do Centro de Investigação Médica da FMUP, num evento sobre o impacto da investigação clínica na sociedade.