"Jorge Sampaio personifica a ética republicana". Foi desta forma que Álvaro Beleza, ex-dirigente socialista que disputou eleições com o então líder e com António Guterres, resumiu ao JN as qualidades do antigo secretário-geral e presidente da República, atribuindo-lhe também uma "simplicidade senatorial".
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Membro do secretariado nacional de António José Seguro, médico e presidente da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, Beleza recordou os momentos em que esteve no fogo cruzado entre aqueles dois socialistas aquando do congresso nacional do PS de 1992, numa corrida tripartida. E também recordou os votos que capitalizou dos apoiantes de Sampaio, quando o líder se afastou na reta final, após Guterres ter a vitória assegurada.
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Foi a derrota do PS nas legislativas de outubro de 1991 que determinou o afastamento de Sampaio, que tinha sucedido, em janeiro de 1989, a Vítor Constâncio, secretário-geral do PS desde 1986 e candidato derrotado a primeiro-ministro em 1987. Constâncio viria a anunciar a sua demissão de líder do partido perante a Comissão Nacional. Uma saída que alguns atribuíram também a um desgaste pelas interferências do presidente Mário Soares e outros à falta de candidato para a capital. Sampaio vencera a liderança contra a ala soarista e o candidato Jaime Gama.
Em fevereiro de 1992, Guterres tomou conta do partido e o antecessor voltou ao comando da Câmara de Lisboa, sendo depois reeleito. Nas legislativas, o PSD de Cavaco voltou a garantir maioria absoluta. Saiu reforçado face a 1987, com 50,6%. O PS de Sampaio cresceu de 22,2% para 29,1%, mas ficou longe de ameaçar a maioria "laranja". Seguiu-se uma forte contestação interna à liderança e, no congresso extraordinário de 1992, o PS mudou de mãos.
"tinha mais perfil para Belém"
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Álvaro Beleza recordou ao JN que conseguiu 12% naquele congresso, em Lisboa. "Os eleitores de Jorge Sampaio votaram em mim", recordou, explicando que o então líder "não foi a votos nesse congresso" a partir do momento que ficou clara a vitória de Guterres.
O ex-dirigente lembra que entrou na Comissão Nacional do PS em 1986, com Constâncio. E sublinha que, no congresso de 1990, apresentou propostas para eleição direta e também para primárias, que mais tarde viriam a ser adotadas, dando vitória a António Costa contra Seguro: o atual primeiro-ministro foi escolhido como candidato às legislativas e Seguro demitiu-se da liderança.
Em 1992, recorda ainda Beleza, propôs uma alteração para diretas e Guterres adotou esse modelo.
Sobre Jorge Sampaio, lembra que teve com ele "a melhor relação pessoal" e que sempre foi "muito cavalheiro, culto, honesto e ético", com "um toque britânico". "Era da ala esquerda do PS e eu mais à direita", recorda.
Álvaro Beleza crê que o perfil de Sampaio se adequava muito mais a Belém do que à liderança do PS.
Por sua vez, António Costa incentivou várias candidaturas de Sampaio, envolvendo-se desde logo no processo para Lisboa. Era já adepto do diálogo à Esquerda.