Carlos Penha Gonçalves, novo líder da vacinação, é doutorado em Imunologia e investigador da Gulbenkian.
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Quando, há mais de ano e meio, o surto do novo coronavírus em Wuhan, na China, se transformou numa pandemia e forçou o Mundo a parar, Carlos Penha Gonçalves, coronel do Exército e investigador da Gulbenkian, prontificou-se para ajudar no que fosse preciso, colocando o seu vasto conhecimento científico à disposição da comunidade militar e civil.
Entre artigos na Imprensa e análises nos espaços informativos das televisões, logo nos primeiros meses da pandemia, o cientista - que é descrito por colegas como uma "pessoa reservada" -, foi dando contributos públicos sobre uma área em que está como peixe na água. Acabaria por integrar a "task force" da vacinação contra a covid-19, ficando responsável pelo Núcleo de Normas e Simplificação. E, desde setembro, passou a ser o (novo) homem de uniforme camuflado que dá a cara pelas vacinas, rendendo na missão o vice-almirante Gouveia e Melo.
Vacinar 500 mil/semana
Licenciado desde 1984 em Medicina Veterinária pela Universidade Técnica de Lisboa, o militar que agora está à frente do plano de vacinação - e cujo objetivo é atingir uma capacidade de inoculação de meio milhão de pessoas por semana nos atuais 304 centros de vacinação e abrir novos espaços onde se vier a revelar necessário, com o apoio das câmaras e administrações regionais de saúde - é, declaradamente, um homem da ciência, com extenso currículo na área.
Ingressou no Quadro Permanente do Exército em 1986, e, apesar de ser veterinário de formação, esta foi uma área que rapidamente colocou em segundo plano, para se dedicar à investigação biológica.
"Teve, desde cedo, apetência para a investigação, para a Biologia Molecular e para a Imunologia, e é para aí que vocaciona o seu percurso. Fez um mestrado na área da Biologia Molecular e, a seguir, foi fazer um doutoramento em Imunologia, na Suécia. No meio militar, é o maior especialista em Imunologia", conta ao JN um oficial que conhece Penha Gonçalves há cerca de 40 anos e que recorda que o investigador "se destacou" já na faculdade, onde foi "um excelente aluno".
"Esteve, desde logo, nas áreas de laboratório e de defesa biológica, de que gosta muito, e ajudou a criar o Laboratório de Defesa Biológica [do Exército], que hoje é de referência", sublinha o oficial, que mantém o anonimato por se encontrar no ativo. Lembra, ainda, que o coronel, nascido há 60 anos no Reino Unido, "tem um currículo excecional", além de ser "um bom logístico e uma pessoa que percebe de vacinas. Encaixa muito bem no perfil" de coordenador do plano de vacinação.
No Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), onde Penha Gonçalves troca a farda de militar pela bata branca de investigador principal, Jocelyne Demengeot também não tem dúvidas de que o colega "está no lugar certo, à hora certa". "Ele tem o perfil e a motivação certos para este trabalho e é uma pessoa de grande ética e integridade", enaltece a investigadora, que trabalha desde 1998 com o cientista de ascendência portuguesa e goesa da parte do pai.
A liderar o Laboratório de Genética de Doenças do IGC, Penha Gonçalves desenvolve estudos em torno de doenças infecciosas. Está ainda ligado ao recente projeto Info-Vac, através do qual o Instituto estuda a efetividade das vacinas contra a covid-19.
"Desde que a vacina foi implementada, definimos linhas de estudo que seguissem a reposta imunitária, a longo prazo, das pessoas vacinadas", explica Jocelyne Demengeot, salientando que Penha Gonçalves - que este ano se tornou presidente da Sociedade Portuguesa de Imunologia - "é muito motivador e trabalha muito". "É uma pessoa extraordinariamente tranquila e calma. É bom colega e muito afável, mas não gosta de falar muito", observaria ainda o militar que o conhece há quatro décadas.