Desmultiplicação do vírus em várias subvariantes que escapam a anticorpos exige vigilância. Internamentos e óbitos bem abaixo das linhas vermelhas.
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Com o número de internamentos e óbitos por covid a subirem ligeiramente, mas bem abaixo das linhas vermelhas traçadas já há mais de dois anos, os especialistas ouvidos pelo JN não veem motivos, para já, de retomar quaisquer restrições ou impor medidas sanitárias. Para já, porque a BQ.1, subvariante da ómicron, está a alastrar-se na Europa, sendo dominante em França e tendo uma prevalência estimada em Portugal superior a 20%. Razão pela qual defendem uma monitorização muito apertada da pandemia no nosso país.
É aquilo a que o epidemiologista Manuel Carmo Gomes chama de "pequeno jardim zoológico de subvariantes", numa "situação inédita". Isto, porque "o vírus desmultiplicou-se numa série de subvariantes que se caracterizam por escapar aos anticorpos". É o caso das BQ.1 e BQ.1.1., sublinhagens da Ómicron. Estimando o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge uma prevalência de 21,4%, antevendo o matemático Carlos Antunes que, no final do mês, seja já dominante.
É o que acontece em França, o primeiro país da Europa onde a BQ.1 se tornou prevalente. Daí Manuel Carmo Gomes defender uma vigilância apertada da pandemia, estando "muito atentos a países como França". A boa notícia, explica ao epidemiologista ao JN, é que, atualmente, "não há evidência que cause quadros clínicos mais graves do que a Ómicron". França mostra-nos isso mesmo: a BQ.1 é dominante, "mas não está a causar grande pressão nos hospitais".
Contudo, como "não sabemos se este facto [de novas subvariantes] combinado com a chegada do frio e permanência em espaços fechados se vai traduzir em pressão", devemos estar "muito atentos às próximas semanas". De resto, vinca, "não pode dizer-se que a situação requeira a alteração das medidas com caráter de obrigatoriedade".
Situação está estável
O mesmo entende o matemático Óscar Felgueiras, que integra a equipa de peritos do Norte, até então liderada pela médica pneumologista Raquel Duarte. Esta equipa apoiou, nestes mais de dois anos de crise sanitária, o Governo no desenho dos planos de (des)confinamento do país .
"A situação está estável, com números baixos em vários indicadores. No geral, não há nada que nos indique que estamos próximos de uma situação preocupante. Pode haver alguns picos, como há todos os anos de gripe, aproximando-se o inverno". E olhando a janeiro passado, quando a Ómicron provocou uma explosão da incidência, "não é nada que se compare". Logo,"que justifique grandes medidas", sustenta o matemático.
Casos longe da realidade
No entanto, o número de casos não reflete, de todo, a realidade, concordam os três peritos. Com o fim do estado de alerta, no início de outubro, a testagem caiu a pique, sendo feita maioritariamente em meio hospitalar. "Numa estimativa empírica, os indicadores mostram que devemos ter quatro vezes mais casos do que os reportados. Os números deixaram de ser realistas e não são representativos da realidade epidémica".
E, mais do que os internamentos em enfermarias, "porque não quer dizer que sejam por covid", importa olhar aos Cuidados Intensivos, entende o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, Carlos Antunes. Atualmente com 34 camas ocupadas, numa "taxa de ocupação nacional de 13%".
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Vacinas adaptadas
Segundo Manuel Carmo Gomes, os resultados laboratoriais "sugerem" que as vacinas adaptadas, usadas como reforço e que incluem, na sua composição, a cepa original do vírus e a subvariante BA.1., "também conferem proteção contra a BQ.1". Quanto à duração da proteção, mantém-se "temporária, cerca de quatro meses".
Cinco óbitos por milhão de habitantes
O último relatório da Direção-Geral da Saúde dava conta (dados do final de outubro) de um aumento dos internamentos (+47), para as 525 camas. Quanto aos óbitos, estavam à data nos cinco por um milhão de habitantes (+13%), numa média diária de 7,6, segundo Carmo Gomes.