Fenprof e FNE defendem regime misto no Secundário, alternando as aulas presenciais com ensino à distância.
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A possibilidade de as escolas permanecerem abertas não tem sido consensual no Governo. Apesar de o primeiro-ministro, António Costa, ter garantido que, mesmo num cenário de novo confinamento, os estabelecimentos de ensino não seriam encerrados, houve vários membros do Executivo que, na quarta-feira, durante a reunião do Conselho de Ministros, expressaram as suas reservas, sabe o JN. Principalmente porque recentemente outros países tomaram essa opção.
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Ainda assim, Costa serviu-se do apoio científico e técnico consultado nos últimos dias e apresentou aos ministros o seu ponto de vista: todas as medidas que venham a ser tomadas têm como objetivo combater a propagação da covid-19, preservando a atividade escolar, que se configura como fundamental. O entendimento fez com que o primeiro-ministro assegurasse que fechar as escolas não está no horizonte imediato do Governo. "Há um grande consenso hoje entre os técnicos e os especialistas de que não se justifica afetar o funcionamento do ano letivo. Não devemos ter medidas que impliquem, como adotámos no ano letivo passado, a interrupção da atividade letiva", afirmou o chefe do Governo em conferência de imprensa após o Conselho de Ministros realizado nesta quinta-feira.
Seja como for, peritos em saúde ouvidos pelo JN são favoráveis ao encerramento das escolas e consideram que adiar a tomada de medidas mais duras por cinco dias pode ser contraproducente. Ainda assim, nem a Federação Nacional de Professores (Fenprof), nem a Federação Nacional de Educação (FNE) pedem o fecho de todas as escolas, como aconteceu em março. João Dias da Silva (FNE) defende, no entanto, que os alunos do Secundário possam, por exemplo, passar para um regime misto, como acontece no Ensino Superior, onde os estudantes intercalam entre semanas presenciais e à distância para não estarem todos em simultâneo nas escolas. "A análise deve ser das autoridades de Saúde, mas é óbvio que não estamos como em setembro", frisou o líder da FNE, à saída da reunião com os dois secretários de Estado sobre o balanço do 1.º período. No final das reuniões, a secretária de Estado Inês Ramires congratulou-se com a unanimidade em relação à prioridade dada ao ensino presencial. As escolas estão a dar "a resposta necessária", defendeu. Já o secretário de Estado Adjunto, João Costa, sublinhou que é preciso "prevenir outra pandemia", o efeito nocivo do ensino à distância, "que é sempre um remendo". Mário Nogueira concorda que o ensino presencial deve ser prioritário, porém apontou que deve funcionar com "condições que não estão a ser observadas", nomeadamente ao nível do distanciamento, arejamento das salas ou nos rastreios que não se fazem. "Uma gestão feita pela Saúde parece-nos adequada, o que não nos parece adequado é as escolas continuarem a ter um tratamento diferente", criticou. Insistindo que se as turmas tivessem menos alunos não precisariam de ter "aulas com janelas abertas".
Decisão arriscada
Adiar por cinco dias um eventual agravamento das medidas restritivas para controlar a covid-19 é uma decisão "arriscada" que até pode comprometer a eficácia das soluções que vierem a ser encontradas. Especialistas ouvidos pelo JN discordam da decisão tomada em Conselho de Ministros - aguardar pela reunião com peritos que se realiza no Infarmed no dia 12 - e alertam que cada dia de atraso piora as consequências da pandemia. "O atraso na implementação das medidas corretas pode levar ao agravamento da situação e condicionar a eficácia das medidas a implementar", avisa Filipe Froes, coordenador do gabinete de crise para a covid-19 da Ordem dos Médicos, que estará esta sexta-feira reunido para discutir a evolução da pandemia. Esta quinta-feira, Portugal contou mais 95 mortos e 9.927 novos casos de covid-19.
O pneumologista entende que este compasso de espera até à próxima terça-feira é "arriscado" porque a onda está a subir. "Vamos imaginar que isto é um incêndio: é a diferença entre tentar apagar o fogo agora ou só daqui a cinco dias", refere. Para Filipe Froes, o "fogo" apaga-se com medidas de confinamento nos concelhos com níveis de risco muito elevado e extremamente elevado. "É necessário um encerramento progressivo da atividade presencial nos setores não essenciais e nas escolas, com exceção das creches", defende o médico, notando que a eficácia das medidas depende da transparência e fundamentação com que são transmitidas.
Também Bernardo Gomes, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), avisa que "esperar para tomar decisões coloca-nos num caminho de menos opções". O epidemiologista nota que não estava à espera de uma "revolução", mas de "mais assertividade" da parte do Governo. Na opinião de Bernardo Gomes é necessário aprimorar e acelerar o que está a ser feito em termos de estratificação do risco por concelho, testagem em massa, sobretudo nos concelhos mais afetados, ponderar a suspensão da atividade escolar presencial dos alunos mais velhos e impor o teletrabalho, sempre que exequível. "Cinco dias é demasiado tempo para tomar medidas e isto pode sair-nos caro", alerta. Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências de Lisboa, admitiu ao JN que "fechar as escolas 15 dias é uma solução para travar a velocidade de contágio", alertando que o vírus está "galopante".
Entre os piores da Europa
O agravamento súbito dos novos casos de covid-19 coloca Portugal no top ten dos países da Europa com mais infeções registadas anteontem. Com 1027 novos diagnósticos, Portugal foi o oitavo país com mais casos. Observando os números acumulados dos últimos 14 dias e por milhão de habitantes, Portugal está a seguir a trajetória do Reino Unido e em muito pior situação do que países como França, Espanha, Itália e Bélgica.