Se nada se alterar, a quarta vaga de covid-19 atingirá o pico dentro de um mês, com dois mil casos diários. Será, ainda assim, um número abaixo dos 15 mil por dia registados em janeiro. Também inferior será o esforço exigido ao Serviço Nacional de Saúde: haverá 500 internados em enfermaria e até 150 em cuidados intensivos, estima a plataforma Covid-19 Insights, da Nova de Lisboa.
Corpo do artigo
A crescer a ritmo acelerado estão o Algarve e Lisboa e Vale do Tejo. Cálculos feitos para o JN por Óscar Felgueiras, da Faculdade de Ciências do Porto, indicam que a incidência algarvia cresceu, esta semana, 91% face à anterior, para 160 casos por cem mil habitantes. Em Lisboa, a subida foi menor (58%), mas a incidência disparou para 223 casos por cem mil habitantes. Muito abaixo estão Norte (61 casos, mais 5%) e Centro (52 casos, mais 25%).
As estimativas da Covid-19 Insights apontam para números muitos inferiores aos de meados de fevereiro, mas a evolução recente exige a tomada de medidas, defendem especialistas ouvidos pelo JN. "No pico desta vaga, não estará em causa a oferta assistencial do serviço de saúde, mas devemos tomar medidas para o antecipar", afirma Pedro Simões Coelho, coordenador da plataforma.
São três as medidas recomendadas. Primeiro, acelerar a campanha de imunização. Recentemente, Portugal vacinou 150 mil pessoas num só dia. Manter o ritmo permitiria dar, pelo menos, a primeira dose a 90% da população, calcula. A importância de acelerar o ritmo é partilhada por Ricardo Mexia, da Associação de Saúde Pública: "Temos 900 mil vacinas em armazém, têm de chegar às pessoas". A ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu que, em julho, Portugal vacinará 130 mil pessoas a cada dia. Segundo, garantir que os inquéritos epidemiológicos são feitos em tempo útil, para travar cadeias de transmissão. "Temos tantos call center, não precisa de ser um médico a preencher o questionário", advoga Pedro Simões Coelho, apontando que "20% de inquéritos de Lisboa são feitos com atraso". Terceiro, diz o coordenador da plataforma Covid-19 Insights, "é preciso discriminar positivamente" as pessoas com passaporte covid. Entre as pessoas com duas doses de vacina e as que já foram infetadas, há 3,5 milhões "que podem fazer vida normal", afirmou.
Comunicação falhada
Questionada sobre um recuo na reabertura do país, Marta Temido admitiu que "medidas não farmacológicas podem ainda ser necessárias". Bernardo Gomes, do Instituto de Saúde Pública do Porto, vê como positivo que a última fase de desconfinamento, a 28 de junho, seja adiada quatro semanas, como sucedeu no Reino Unido. Mas ressalvou uma diferença: "Privilegiar os espaços ao ar livre", onde o risco de transmissão é menor, já que "o tempo vai aquecer e as pessoas não ficarão em casa". Até porque, diz, a forma como o risco é comunicado "parece de loucos". "Foi destruída em maio, com o Sporting, os ingleses no Porto e a terrível mensagem" de Marcelo Rebelo de Sousa. Na altura, o presidente disse que o país não voltaria a confinar. "Damos mensagens contraditórias e depois acusamos as pessoas de não as cumprir", lamenta.