Não é a primeira vez que o Papa Francisco passa pelo cavalete do pintor António Bessa. Com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), quis repetir o feito: o artista que pinta há quase 40 anos na Rua do Almada, no Porto, vai oferecer uma pintura a óleo ao Papa, gravura que será também oferecida com o JN de domingo.
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“Pintei-o juntamente com o D. Américo Aguiar quando o nomeou bispo auxiliar de Lisboa, e vislumbrei, ao fundo, a figura do D. António Francisco dos Santos como se estivesse a assistir à celebração”, recorda, ao JN, o mestre portuense, referindo-se ao antigo bispo do Porto que também já tinha pintado.
Quando soube que Portugal iria receber o encontro mundial de jovens com o Santo Padre, não hesitou em propor a oferta ao bispo auxiliar de Lisboa. E se o Papa não vai ao Porto nesta visita, o Porto vai até ao Papa. No centro da pintura, Francisco, iluminado, acena aos jovens que o rodeiam. Entre bandeiras de várias nacionalidades, surge, ao fundo, a Torre dos Clérigos e a Igreja da Misericórdia, na cidade invicta. “O Papa está com a juventude no Porto, a abençoar a nossa cidade”.
Foi esta a ideia que acabou por dar nome à pintura: “A bênção no Porto”. António Bessa demorou cerca de um mês, mês e meio a concluir a pintura de 1,40 metros de altura por 1,20. “Sou muito espontâneo. Não demoro muito tempo. Trabalhei intensamente até que a obra ficasse concluída e a pudesse pendurar na parede”.
Para o Papa e para o povo
Muitos puderam vê-la ao vivo e a cores na galeria do artista de fevereiro até há uns dias, quando foi enviada para Lisboa. Bessa não sabe ainda onde será exposta no Vaticano. “Quando o Papa vir a obra, deve-se interrogar ‘eu não estive neste sítio’. Mas esteve, porque o coração do Porto esteve e estará sempre por si. É esta a mensagem que lhe quero transmitir e ao povo”, resume.
Os portuenses já conhecem o mestre há vários anos. Para o resto do país, Bessa saiu do anonimato, em 2017, quando ofereceu um retrato a Marcelo Rebelo de Sousa para retribuir um abraço. António Bessa, 69 anos, diz-se, com orgulho, “um tripeiro de gema”. A paixão pela pintura surgiu cedo e espontaneamente na sua vida. Quando frequentou as Belas Artes no Porto, com 20 e poucos anos, “já sobrevivia da pintura”.
Na rua da baixa portuense pulou de ateliê em ateliê. Agora, o espaço onde moram as suas pinturas tem uma montra grande que faz parar quem por ali passa, quase como se estivesse a pintar na rua, junto das pessoas. “Houve quem passasse enquanto estava a pintar o retrato e diziam ‘falta aí uma bandeira’. ‘Qual?’, perguntava. ‘A bandeira da Argentina, a bandeira do Papa’. Por acaso faltava mesmo, tive de trabalhar o quadro outra vez”, conta.
Pelo ateliê já passaram vários rostos conhecidos dos portugueses que o mestre também pintou. “O almirante Gouveia e Melo impressionou-se mesmo com o retrato. Disse-lhe logo que esta obra foi feita para o Papa. ‘Estou aqui e parece que falo com o Papa’, dizia-me”.
A entrega acontecerá em breve, embora Bessa não esconda o desejo de algum dia conhecer o Papa. Para assinalar a visita, o JN vai oferecer uma gravura do original aos leitores na compra da edição de domingo, 30 de julho.