Na aldeia de Regodeiro moram muitos idosos que não têm transportes públicos para o centro da cidade.
Corpo do artigo
Entre a cidade de Mirandela e a pequena aldeia de Regodeiro, freguesia de Múrias, distam 20 quilómetros, três deles que demoram uma eternidade, numa estrada com mais buracos do que alcatrão. Para circular naquela via muito estreita são precisos inúmeros desvios e sempre extrema atenção, não venha alguma viatura em sentido contrário.
Por lá residem menos de 50 pessoas, a maioria idosos, alguns com mais de 80 anos, que serão incluídos no grupo prioritário da próxima fase da vacinação contra a covid-19. O problema são os transportes.
É que, ao contrário do que aconteceu na vacina contra a gripe, em que as equipas de saúde se deslocaram às juntas de freguesia para administrá-las, agora a situação é diferente, com todos os idosos com mais de 80 anos a serem notificados, a partir desta semana, para comparecerem no centro de saúde de Mirandela, com marcação prévia.
Para os habitantes de Regodeiro, esse é o principal problema, porque não há transporte público. "Não tenho carro, para ir ao centro de saúde, que são 40 quilómetros, ida e volta, temos de pagar a um carro ligeiro e o táxi, que há algum tempo levava 40 euros, não sei se já não é 50 euros. É muito caro", diz Helena Pereira.
Cansaço é evidente
Depois de praticamente um ano de pandemia, o cansaço é evidente e o medo também, mas ainda há quem tenha fé. "Só se vê miséria, as ambulâncias não têm sossego, os médicos e os enfermeiros não param, é uma tristeza. Mas temos de ter esperança", diz Maria Freitas. Laura Augusta, de 86 anos, passeava junto à sua porta e, quando confrontada com a novidade da vacina, mostrou uma satisfação algo contida. "Eu gosto que venha, porque se não resultar com ela, menos resulta sem ela, com certeza", diz. O problema, mais uma vez, é como há de chegar ao centro de saúde.
Helena Pereira fazia o seu passeio diário com a ajuda de duas bengalas. "Tenho uma osteoporose e preciso de esticar as pernas todos os dias", conta. Quanto à vacina que deverá tomar nos próximos dias diz-se incrédula: "Vamos lá ver se vem. Ainda não chegaram para os meios grandes, quanto mais aqui, para os pequenos. Mas era bom que viesse e fizesse bem para não morrer tanta gente", refere.
Na casa em frente, Lúcia Pereira, de 81 anos, abriu a janela e sobre a badalada vacina contra a covid-19, remata: "Olhe, tenho medo aos efeitos secundários, sei lá se depois isto vai fazer-me bem ou mal. Tenho bronquite e um quisto no rim, ainda não sei o que vou fazer", adianta. Pior que não ter vacina, o que estes idosos podem não vir a ter é transportes para ir tomá-la.
13300843