Cancelamentos de fogo-de-artifício somam prejuízos no setor. Empresa de Oleiros fala de um milhão de euros, outra de Lamego, que perdeu todos os municípios, em cerca de 80 mil.
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O cancelamento dos espetáculos de fogo-de-artifício na passagem de ano deitou por terra a esperança de alguma retoma e receita para as empresas de pirotecnia, sem trabalho há quase dois anos por causa da pandemia. "Desde meio de dezembro que os cancelamentos começaram a chegar uns após os outros, é desolador", desabafa João Paulo Ribeiro, sócio-gerente da Lusopirotecnia, a maior exportadora do setor em Portugal, com sede em Oleiros, distrito de Castelo Branco. Em setembro, a empresa conseguiu "uma produção de um espetáculo para a Walt Disney World, em Orlando, que continua". "Foi uma lufada de fresco e começámos a ficar entusiasmados", continua.
Chegou dezembro e alguns trabalhos para final do ano estavam em conceção. A meio do mês, enquanto o contágio da covid preenchia de novo a atualidade informativa, a esta empresa especializada em eventos piromusicais, veio o primeiro cancelamento: a Câmara de Lisboa, um contrato na ordem dos 200 mil euros. "O evento pode ser adiado e sermos ressarcidos com um sinal de 20% a 30 %, mas não compensa todo o trabalho já feito com idas ao local, conceção do evento que iria ter 13 quilómetros e três pontos de projeção", explica.
Só um hotel
Luís Duarte, da empresa de pirotecnia Duarte, de Lamego, fala do mesmo sentimento de "esperança que ficou reduzida a pólvora". "Não temos um único município. Perdemos Viseu, Vila Real, Mirandela, temos só um hotel", diz desesperado, quando tinha cerca de dezena e meia de clientes para o final do ano. "São 80 mil euros de prejuízo e entre 50 a 70 mil euros de matéria-prima comprada e que fica armazenada", diz o empresário.
À Lusopirotecnia os cancelamentos vieram de Lagos, Faro, Beja, Pombal, Viseu, Caldas da Rainha, Tomar, Foz do Arelho. João Paulo Ribeiro fala de um prejuízo de cerca de um milhão de euros, valor que iria ser faturado, mas outros custos ficam por cobrir. "É um prejuízo avultado que nos deixa com alguns eventos em Albufeira, Castelo Branco, Sabugal, Mafra e outras pequenas localidades", explica o empresário de Oleiros.
Milhares nos paióis
As empresas de pirotecnia vão ficar com os paióis (armazém para produtos explosivos) cheios. Na Lusopirotecnia o valor ali armazenado está orçado em 400 mil euros. "Vamos fazer uns 600 mil euros de receita com os espetáculos do final do ano. Depois, enfim, não sei o que vai ser desta equipa de 20 pessoas. Vão para casa, vamos ver que medidas existem", diz João Paulo Ribeiro, que em 2021 teve a sua empresa em regime de lay-off.
"Não sei se aguentamos mais um ano sem trabalho", diz por sua vez Luís Duarte, que tem nos paióis entre 50 e 70 mil euros de pólvora, guardada nos armazéns até melhores dias, se as empresas do setor conseguirem sobreviver.
Alerta
Líder de associação receia fecho de firmas em janeiro
O grupo Macedos, da Lixa, perdeu o espetáculo de fogo-de-artifício no Porto, que foi cancelado pelo município, mas mantém-se a previsão de iluminar os céus do Funchal, na Madeira. O responsável pela empresa, Carlos Macedo, que preside à Associação Portuguesa de Indústrias de Pirotecnia e Engenhos Explosivos, denunciou este mês que muitos trabalhadores vão ficar sem empregos a partir de janeiro. O dirigente lembra que a indústria da pirotecnia está parada há quase dois anos. "Ou o Governo nos ajuda ou fechamos todos", alerta.
Dados
28 trabalhadores
A Lusopirotecnia , em Oleiros, tem 20 trabalhadores, a Duarte, de Lamego, oito. Os responsáveis pelas empresas não escondem que os postos de trabalho podem estar em risco se não houver espetáculos em breve.
Os poucos que têm
Albufeira, Mafra, Castelo Branco, Sabugal são dos poucos concelhos que mantém o fogo de artifícios de final de ano. Em Castelo Branco, para evitar ajuntamentos, o fogo será projetado em vários bairros.