Nos tempos em que não se sonhava com playstations, as corridas de automóveis em miniatura já foram um dos divertimentos mais populares entre os mais novos, . Hoje são um divertimento levado muito a sério por gente crescida, que, no Guimarães Slot Club, encontram um espaço para soltar toda a adrenalina como nas provas oficiais.
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Um grupo de homens adultos, a maioria acima dos 35 anos, muitos na casa dos 40, alguns já com idade para serem avós, começam a chegar à Fábrica Asa, em Guimarães, um pouco antes das 21 horas. São apaixonados pelos slot-cars, mas, inicialmente, tomaram-nos por jogadores de póquer.
"Por sermos só homens, por nos reunirmos à noite, por andarmos com as malas. Deviam pensar que era para carregar as fichas", conta, divertido, Miguel Guerreiro, presidente do Guimarães Slot Club. Na bagagem trazem os carros e a ferramenta.
Para estes homens há uma parte da infância que nunca acabou. Uma ou duas vezes por semana, às vezes mais, reúnem-se para "brincar" com os seus carrinhos nas pistas.
Quarta-feira é dia de corrida no espaço do clube, no segundo andar da antiga fábrica têxtil, reconvertida por altura da Capital Europeia da Cultura. Apesar de estarmos a meio da semana, há concorrentes que vêm de longe.
Amanhã, no trabalho, vou ter sono, mas vale a pena
"Amanhã, no trabalho, vou ter sono, mas vale a pena", afirma Rui Machado, de Vila Real. Rui é um dos 17 concorrentes da prova do Troféu M1 Procar, um campeonato que se disputa com modelos à escala 1/24 do clássico da BMW. Jorge Cruz, do Porto, chega afogueado depois de uma viagem de milhares de quilómetros a conduzir, para ir correr uma prova na Alemanha. "Ainda não fui à cama", confessa.
Entre um café, um gin e as últimas afinações nos carros, chega a hora da corrida e Filipe Vinagreiro, o diretor de corridas, dá ordem para começar. De cima do palanque os pilotos usam os comandos para controlar as máquinas: botão verde para potência, azul para derrapagem, amarelo para sensibilidade do acelerador e vermelho para regular a travagem. Quem está de fora acompanha os tempos por volta projetados na parede e vai fazendo vaticínios.
O clube tem cerca de 40 sócios, mas nem todos participam em todos os campeonatos, até porque há mais tarefas. Frasco Leite é professor de Educação Visual e Tecnológica e é o responsável pelo design das pistas. Enquanto os outros aceleram, ele vai dando os últimos retoques na pista de TT.
Quando ia de férias para a Póvoa do Varzim, havia lá duas pistas e provas com 86 participantes. Era preciso convite para assistir
"Será única no país, própria para correr com carros de todo-o-terreno", afirma o presidente, orgulhoso.
Domingos Vinagreiro, de 73 anos, é o mais velho em prova. Começou em 1964, com 14 anos, e já gerou descendência. "O diretor de prova é meu filho", aponta. "Antigamente havia mais pistas, isto era a playstation da altura. Quando ia de férias para a Póvoa do Varzim, havia lá duas pistas e provas com 86 participantes. Era preciso convite para assistir", recorda.
Carros a 200 euros e controladores a 700
Domingos fica orgulhoso do seu 9º lugar. "Estou a meio da tabela, mantenho-me competitivo", observa. Rui arruma o equipamento logo que a prova acaba, está apenas moderadamente contente com o 2º lugar e ainda tem pela frente uma viagem até Vila Real.
E esta paixão, claro, tem custos. Os sócios pagam 20 euros por mês e têm acesso às instalações do clube para treinar 24 horas por dia. Os não sócios pagam oito euros por corrida.
Um carro razoável para começar custa cerca de 200 euros, mas, para quem não tiver como objetivo a vitória, há modelos abaixo dos 100 euros. O punho (controlador), analógico ou eletrónico, pode arranjar-se por 250 euros, mas há-os a 700.