A temperatura média do ar na superfície terrestre está cada vez mais alta e a tendência é para continuar a crescer de forma acelerada no futuro. Especialistas afirmam que recordes como o que o planeta viveu ontem vão traduzir-se em secas cada vez mais frequentes e incêndios com repercussões na agricultura e na saúde.
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De acordo com a Agência dos EUA para a Atmosfera e os Oceanos (NOOA), 4 de julho foi o dia mais quente de que há registo: 17,18ºC de temperatura média, ultrapassando o recorde do dia anterior que tinha de sido 17,01º C. Esta medição ultrapassa o anterior recorde diário (16,92ºC), registado a 13 de agosto de 2016.
Para Filipe Duarte Santos, professor e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, este cenário explica-se pela "utilização intensiva de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás natural" e pelo início do fenómeno climático El Niño, no Pacífico. Segundo o especialista em alterações climáticas, o fenómeno vai estender-se até 2024 e provocar o aumento natural da temperatura na atmosfera. "Nos próximos tempos vamos ter novos recordes", afirma.
Menos água e efeitos na saúde
Em termos práticos, o aumento da temperatura, aliado a fenómenos climáticos extremos mais frequentes, vai ter repercussões na quantidade de água disponível e no aumento do risco de incêndios florestais. "Enquanto não for possível descarbonizar a economia mundial, vamos ter a continuação desta tendência de subida da temperatura média com repercussões sobre a saúde humana e sobre a produtividade agrícola", avisa Filipe Duarte Santos. E acrescenta: "Tem impactos sobre a disponibilidade de água, que se está a verificar em Espanha e Portugal, com secas repetidas. Há também maior risco de incêndios rurais e florestais".
Também Rui Cortes, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, alerta que devem ser adotadas medidas que possam minimizar estes efeitos, nomeadamente na agricultura. "Temos de procurar novas formas de armazenamento de água e, fundamentalmente, processos de proteção do solo, como a diminuição de herbicidas, que evitem fenómenos negativos e também elevadas taxas de evaporação".
O especialista em impactos do clima e do ambiente afasta, contudo, soluções mais extravagantes como o transvase de água da Bacia do Douro para sul. "Não há excesso de água no norte do país. A Bacia do Douro já apresenta uma situação de seca moderada na zona de Trás-os-Montes. Portanto, esta ideia de transportar água do Norte para o Sul, tem impactos ambientais tremendos e custos elevadíssimos", atira.
"As alterações climáticas mereciam mais atenção, caso contrário, vamos ter problemas sociais muito significativos", alerta.