Um software desenvolvido por Manuel Gameiro, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, permite simular a quantidade do ar e a de eventuais vírus a que as pessoas podem estar sujeitas dentro de um espaço. A investigação será brevemente apresentada numa associação internacional e tem interessados na Bélgica e na Austrália.
Corpo do artigo
A plataforma trabalha com uma série de variáveis, como o número de pessoas no espaço, as dimensões, a circulação do ar e o escoamento das fontes poluentes. "Define emissor e recetor do vírus, se cada um está ou não a usar máscara, o tempo de meia vida do vírus (para que a concentração passe para metade) e faz a evolução do poluente e concentração de CO2", explica, ao JN Urbano, Manuel Gameiro.
O software parte do princípio que está uma pessoa no espaço infetada com um vírus, e são exibidas as quantidades de vírus que está a espalhar consoante está ou não com máscara, e se os recetores estão expostos a esse vírus, também consoante o uso ou não de máscara. "Temos um gráfico com nível de vírus contraído por pessoa com máscara e sem máscara, e temos uma série de variáveis que podemos colocar. Posso pôr um purificador de ar, simular uma sala fechada ou se há uma porta ou uma janela aberta", descreve o investigador.
Manuel Gameiro integra uma associação internacional que é a REHVA (Federation of European Heating, Ventilation and Ar Conditioning Associations), de onde surgiu a ideia de desenvolver esta plataforma. "No contexto da covid-19, a associação emitiu guias de como deviam ser geridos os edifícios, e achei que a melhor forma de explicar conceitos era com esta ferramenta", aponta. Brevemente, o projeto será apresentada numa reunião da REHVA. Há já interesse por parte de uma associação de saúde pública da Bélgica e da Universidade de Sydney, na Austrália, em usar a ferramenta.
Para Manuel Gameiro, o software mostra também que a segurança e a exposição ao vírus é muito relativa. "Basta alterar uma variável, que essa exposição altera completamente", destaca. Dando o exemplo da Universidade de Coimbra, conta que o grau de segurança é diferente consoante se está na Faculdade de Ciências ou na de Direito, tudo dependendo das variáveis.
"Ouço muitos responsáveis de setores económicos, como na restauração, a dizer que o setor deles é seguro. Não o podem dizer, nenhum setor, como um todo é seguro. Os restaurantes e os transportes têm condições muito diferentes de uns para outros. Basta mudar uma variável e o risco muda logo", sustenta.