Covid-19 alterou conceitos e obrigou a necessárias mudanças. Os veículos partilhados foram, também eles, apanhados pelo furacão. E tiveram de se adaptar a uma realidade inesperada e atípica. Mais higienizada. Como proteger algo que é tocado por centenas ou milhares de pessoas todos os dias?
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Como proteger um veículo tocado por centenas ou milhares de pessoas todos os dias? Foi este o desafio que surgiu imediatamente no caminho de Thiago Ibrahim, country manager Portugal da Hive/Free Now, quando surgiu a confirmação de que a covid-19 estava para ficar e era preocupação sanitária que merecia atenção especial. "Foi necessário pensar em medidas que colocassem a segurança dos utilizadores em primeiro lugar", explica o responsável.
"Dos utilizadores e não só, porque as trotinetas e as bicicletas estão espalhadas pela via pública e podem ser tocadas, mesmo que involuntariamente, por qualquer um", lembra. Nesse sentido, a Hive/Free Now optou pela aplicação em toda a frota de "um produto que permite uma desinfeção mais prolongada no tempo", idêntico ao utilizado em transportes públicos, o qual "cria proteção absoluta" contra o coronavírus.
Na atualidade, os veículos partilhados de mobilidade verde, sem emissão de gases para a atmosfera, ganham sublinhado especial. A pandemia condicionou-lhes o modo de operação, mas não impediu que continuassem disponíveis em cidades como o Porto ou Lisboa. E também em Matosinhos, onde, na última semana, foi apresentada a aplicação Matosinhos AYR, que permite alugar bicicletas e trotinetas elétricas, além de comprar e validar títulos de transportes públicos ou pagar parcómetros.
As trotinetas elétricas podem considerar-se a solução alternativa para que as pessoas se possam deslocar publicamente sem terem contacto direto com outras pessoas
"Queremos que os munícipes tenham na palma da mão as diferentes opções para poderem escolher os meios de transporte que melhor os servem e, sobretudo, poderem escolher entre meios de transporte ativos e sustentáveis", sublinhou José Pedro Rodrigues, vereador da Mobilidade da Câmara de Matosinhos. A aplicação, para já ainda experimental, proporciona também o carregamento de veículos elétricos ou o acesso a informações sobre os horários de autocarros e tempos de espera.
Outras aplicações anteriormente existentes no mercado tiveram, entretanto, de se adaptar à denominada nova normalidade. "Numa época tão delicada como a que estamos a viver, as trotinetas elétricas podem considerar-se a solução alternativa para que as pessoas se possam deslocar publicamente sem terem contacto direto com outras pessoas", considera David Ferreira da Silva, responsável da Bolt em Portugal.
A operar em território nacional desde o início do ano, esta empresa também foi obrigada a alterar procedimentos. "Os veículos são devidamente desinfetados nos nossos armazéns. Mesmo assim, recomendamos aos utilizadores que desinfetem as mãos e que limitem ao máximo as deslocações para evitar o contágio por via da proximidade social", descreve David Ferreira da Silva.
Um dos produtos que ganhou predominância de aplicação neste e noutros tipos de transporte foi o Zoono, o qual cria uma espécie de capa protetora que evita a transmissão de vírus. "O foco estratégico das empresas de mobilidade na desinfeção acompanhou o de outras empresas, nomeadamente os transportes tradicionais, como os metropolitanos, comboios, autocarros e ferries. Foi uma resposta natural às preocupações da sociedade face à necessidade de deslocação nos centros urbanos e, como especialistas em desinfeção, foi uma das nossas primeiras prioridades", explica João Souto, partner da Zoono Ibéria.
Esta solução foi a escolhida pela Hive, outra das empresas de partilha de veículos elétricos. "O produto é aplicado com mais frequência nas superfícies de maior contacto pelos utilizadores, como os punhos, o acelerador e o travão", especifica João Souto. "Os equipamentos integrados no protocolo estão sinalizados com um selo que os distingue", acrescenta.
Máscaras e lugares limitados em automóveis
Segurança foi também palavra de ordem tomada em conta pelas plataformas de transporte de veículos ligeiros. A Uber, por exemplo, além da normal desinfeção dos automóveis, optou pela distribuição gratuita de máscaras aos motoristas e limitou a capacidade consoante o número de lugares disponível. E a Bolt lançou uma categoria especial, a Protect, em que todos os carros possuem vidro de proteção entre motorista e cliente, além de também ter condicionado a utilização ao número de lugares. "O banco da frente não pode ser utilizado e um automóvel de cinco lugares só pode levar dois passageiros", explica David Ferreira Silva, da Bolt.
A pandemia de covid-19 e a consequente necessidade de limitar os aglomerados sociais como forma de prevenir contágios acabou, também, "por acelerar medidas de mobilidade que pareciam travadas no tempo". Quem o diz é Paula Teles, engenheira especialista em mobilidade urbana e criadora e dinamizadora da Mobilidade PT, plataforma que visa o redesenho das cidades no sentido de as tornar mais amigas do ambiente e da qualidade de vida.
Tudo o que era urgente há anos está a ser feito agora. Não há tempo a perder nem como voltar atrás
"Cidades como o Porto e Lisboa levaram a cabo medidas que visaram a redução das faixas de rodagem de trânsito e a sua devolução aos cidadãos, dessa forma alargando passeios e permitindo maior usufruto do espaço público com todas as condições de segurança asseguradas", recorda Paula Teles. Tais medidas irão manter-se ativas no pós-pandemia? "Tudo o que era urgente há anos está a ser feito agora. Não há tempo a perder nem como voltar atrás", acredita.
"Há também que pensar nos cidadãos deficientes", apela Paula Teles. Nesse sentido, e no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, foi lançada esta semana pela Associação Salvador e o Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade um projeto para a promoção da eliminação de barreiras urbanísticas e arquitetónicas nas vilas e cidades portuguesas