As relações familiares no Governo continuam a gerar polémica em ano de eleições, o que, segundo politólogos ouvidos pelo JN, surge pelo elevado número de casos e pela falta de prudência do Executivo de António Costa que "devia dar o exemplo", em vez de agravar a desconfiança dos cidadãos.
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Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "família de presidente não é presidente" e que tem pecado por excesso, no sentido de "não confundir as duas realidades".
A controvérsia foi já explorada além-fronteiras. O jornal espanhol "El País" critica a "endogamia" que "chega ao extremo", após a última remodelação, de sentar o pai Vieira da Silva e a filha Mariana no mesmo Conselho de Ministros. Além disso, destacou o jornal, sentam-se naquela mesa marido e mulher: Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino.
As ligações familiares surgem em várias outras nomeações exploradas pela Oposição, como as das mulheres de Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro.
Na terça-feira, a imprensa divulgou também que este secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares nomeou, este mês, o filho do deputado Fernando Anastácio para adjunto; e Marcos Perestrello, ex-secretário de Estado da Defesa, tem a mulher e o irmão em cargos do Estado.
PSD condena avalanche
Rui Rio, líder do PSD, aproveitou para atacar a "avalanche de casos". E admitiu que "num dado limite" o chefe de Estado "possa ter uma intervenção". Para a líder do CDS, Assunção Cristas, o Governo "mais parece uma árvore genealógica".
Antes, Marcelo Rebelo de Sousa disse ter mantido sempre o entendimento de que "família de presidente não é presidente". "E, portanto, nisso peco por excesso", admitiu, defendendo uma visão, "sobretudo num órgão unipessoal como é o presidente", mas que diz ter marcado a sua vida, que passa por "não confundir as duas realidades".
Salientou que se limitou a aceitar a designação de Cavaco Silva "de nomear quatro membros do Governo com relações familiares, todos com assento no Conselho de Ministros", incluindo a então secretária de Estado Adjunta Mariana Vieira da Silva, hoje ministra.
Para o investigador António Costa Pinto, é preciso distinguir o caso dos quatro ministros das nomeações para assessores, adjuntos ou chefes de gabinete, que considera de maior gravidade por "apontarem mais para fatores de clientelismo". No caso dos ministros, diz dominarem os fatores de "confiança política e pessoal" nas escolhas de um primeiro-ministro com "autonomia" face ao partido.
Destaca ainda a "vocação política" que passa de pais para filhos. Porém, "há limites" e "a prudência devia imperar", sobretudo "numa conjuntura pré-eleitoral" e "numa sociedade que desconfia da classe política".
Também André Freire crê que "o Governo devia dar o exemplo" da "ética republicana" porque "não basta ser sério, é preciso parecer". E, apesar de não serem inéditas, estas nomeações constituem "um problema" e prejudicam "a confiança" dos cidadãos e a "imagem" da classe política porque "atingiram uma extensão significativa neste Governo".