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Em pleno Minho, um projeto de uma IPSS procura promover a inserção social através das atividades artísticas. Nele se pintam cravos e corações, nele se colam azulejos como quem une os pedaços de uma vida estilhaçada pelas mazelas na saúde mental. Um ponto de fuga, da doença e do preconceito, que carece de mais financiamento.
Ponte de São Vicente é uma pequena freguesia do município de Vila Verde, tem pouco mais de três quilómetros quadrados, os habitantes não chegam ao meio milhar (dados dos últimos Censos). A ruralidade é um ponto inegociável, há vales verdejantes, paisagens bucólicas, uma paz que contagia, qual fuga à vertigem dos dias. O conceito de refúgio reforça-se no interior da antiga escola primária, hoje chamam-lhe Casa da Citânia, nela não cabem rótulos nem estigmas, nela a doença mental é pouco mais que nota de rodapé. A algazarra feliz pressente-se ainda antes de entrar, lá dentro um grupo de utentes do CACI (Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão) de Braga cumpre-se em múltiplos pedacinhos de azulejos colados à medida de cada um, ora são sóis, ora são casas, ora são corações, a inclusão pela arte é em si um quadro poderoso e, neste caso, tem um nome bem vincado. “Ponto de Fuga” é o projeto lançado em 2021 pelo Centro Social Vale do Homem - uma IPSS sem fins lucrativos, sediada em Vila Verde -, com o propósito maior de ajudar pessoas com doença mental a integrarem-se na comunidade. Seja através da pintura ou da cerâmica, da olaria ou da carpintaria, do teatro ou da música. “Um espaço onde as pessoas se sentem livres da doença, com à-vontade para exprimir o seu verdadeiro eu, no contexto de uma terapia de inserção social”, sintetiza Sílvia Peixoto, enfermeira especialista em saúde mental e responsável pelo projeto.