O número de hotéis continuará a subir no ano que começa esta quarta-feira. O otimismo para 2020 é moderado, mas é expectável que o setor turístico venha a apresentar números muito próximos dos alcançados em 2019. A única dúvida são os efeitos que o anunciado Brexit possam provocar no mercado.
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O turismo vai continuar em alta em 2020. O próximo ano promete não trazer más notícias para o setor e o ritmo acelerado de licenciamento de novos hotéis é a prova disso mesmo. Os dados mais recentes apontam para mais de uma centena de unidades hoteleiras em processo de autorização em todo o país, muitas delas de quatro e cinco estrelas. Boa parte concentra-se no Porto e em Lisboa, dois dos pontos de atração mais fortes para os estrangeiros que escolhem Portugal como destino. O Alentejo é a surpresa da lista pela elevada quantidade de pedidos: 32.
Os números disponíveis, divulgados no último trimestre do ano pela Confidencial Imobiliário, garantem que são 166 os hotéis em fase de regularização. Dezoito deles vão abrir no Porto, outros 13 na capital, cidades que assim confirmam a continuação na aposta de capitalização do setor turístico como motor das respetivas economias locais.
No entanto, as associações do setor preferem o copo meio cheio na análise ao que aí vem. "Face ao que tem sido o comportamento do mercado nacional, e em especial do mercado internacional, a atividade turística em 2020 deverá, pelo menos, manter-se em linha com os resultados que temos vindo a registar em 2019", acredita Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).
A taxa de ocupação vai estabilizar nos destinos mais maduros, mas tem uma grande margem de crescimento nas regiões Norte, Centro, Alentejo e Açores
"A taxa de ocupação vai estabilizar nos destinos mais maduros, mas tem uma grande margem de crescimento nas regiões Norte, Centro, Alentejo e Açores", antecipa, por sua vez, Cristina Siza Vieira, presidente da Direção Executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).
O ano de 2019 ficará na história como dos mais fortes de sempre do turismo. Os últimos dados oficiais, compilados pelo Turismo de Portugal apenas até ao mês de outubro - os de então até dezembro apenas devem ser conhecidos no início do próximo ano -, referem um crescimento de 6,7% do número de hóspedes (23,6 milhões), de 3,7% no que diz respeito a dormidas (62 milhões) e de 6,9% nos proveitos totais na hotelaria.
O Porto e o Norte, esses, continuaram com números sorridentes, na senda do que aconteceu em anos anteriores. "O ano de 2019 foi excelente, continuámos a crescer acima da média nacional", frisa Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP).
Segundo os dados do TPNP, a região obteve uma subida de 10% no que diz respeito ao fluxo de turistas e ao número de dormidas. Os cruzeiros dispararam 40% em comparação com o ano de 2018. "Para 2020 é esperado que continuemos a acompanhar os resultados de 2019, ou seja, acima da média nacional", antecipa Luís Pedro Martins.
Valores históricos
Em setembro, após o fecho da chamada época alta, o Governo anunciou que Portugal irá encerrar o ano com a cifra de 27 milhões de turistas, mais dois milhões do que em 2018. Valores nunca antes atingidos e que também se refletem nos ganhos daí provenientes, qualquer coisa como 17 mil milhões de euros, mais 6% do que em 2018.
"Nos últimos três anos crescemos 45% em termos de receita turística", confirmou a então secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, entretanto nomeada ministra do Trabalho do novo Governo do PS saído das eleições legislativas de 6 de outubro.
A AHRESP não ficou surpreendida com estes valores e encontra "na qualidade da oferta" a razão principal para Portugal continuar entre os destinos mais procurados. "Além disso, temos disponível uma diversidade de produtos e serviços, além de sermos um dos países mais seguros do mundo", assinala Ana Jacinto. "Tudo isto são ingredientes que fazem crer, sem excessivo otimismo e sempre com a devida preocupação e noção da nossa dimensão à escala internacional, que 2020 continuará a ser um ano de consolidação da atividade turística", acredita.
O Algarve continuou a ser a região que concentrou mais alojamentos e dormidas, logo seguido de Lisboa, do Norte e da Madeira. A maior parte das receitas foram deixadas por turistas estrangeiros, em particular britânicos.
Bexita assusta
E são precisamente os cidadãos da Grã-Bretanha uma das maiores fontes de preocupação para 2020. A culpa é do Brexit. Com a anunciada saída do Reino Unido da União Europeia (UE) a 31 de janeiro, e sendo os britânicos a fatia mais significativa dos turistas que escolhem Portugal - 19,5% do total, confirma o Instituto Nacional de Estatística (INE) -, o Governo anunciou medidas de prevenção que pretendem fazer frente a um possível abrandamento do fluxo de visitantes provenientes de terras de Sua Majestade.
O plano prevê a "promoção turística de Portugal no Reino Unido e atração de investimento", a criação de um "canal informativo de relação com o consumidor britânico (o VisitPortugal.com), ou o lançamento de uma "área de atendimento online".
A estas medidas junta-se a dispensa de vistos para estadias até 90 dias, o reconhecimento das cartas de condução britânicas em território nacional, ou, por exemplo, a garantia de utilização dos corredores de aeroporto destinados aos cidadãos do espaço comunitário. "A definição do Brexit e o caminho contínuo de reforço, simplificação e proximidade que todos - Governo, Turismo de Portugal e operadores privados - fizemos junto do mercado inglês permite-nos encarar com otimismo a permanência deste como o principal mercado emissor para o nosso país", prevê Cristina Siza Vieira, da AHP.
Em termos de dormidas, os britânicos representam nove milhões do total de estrangeiros que visitam Portugal, praticamente o dobro de alemães e espanhóis (cinco milhões, cada), segundo atestam os dados do Turismo de Portugal.