Um livro de apoio à prova de aferição de História e Geografia para o quinto ano menciona "relações amigáveis e pacíficas" com os povos encontrados, "raça negra" e "povos pouco desenvolvidos", para explicar o que foi a expansão ultramarina. A Porto Editora reconhece que há incorreções no excerto em causa e contactou os autores para que se faça uma reformulação.
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Em África "estabelecem-se contactos comerciais marcados por relações amigáveis e pacíficas", por ler-se no manual de apoio. "Os portugueses encontraram vários povos de raça negra", refere-se entre outras ideias. Segundo o professor universitário Pedro Schacht Pereira, que trabalha na Ohio State University, estamos diante de um branqueamento da escravidão, inadmissível nos tempos que correm.
No texto da polémica, "os únicos sujeitos históricos são os portugueses, todos os outros são recetores passivos. E depois há a naturalização dos 'escravos' como mercadoria", explica Pedro Schacht Pereira, que foi alertado para este material de estudo pela mãe de uma aluna que estava a usar este compêndio.
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Da parte da Porto Editora, explica-se que este livro "não é um manual escolar", mas "um livro de apoio de compra livre, não estando sujeito a adoções" e reconhece-se a existência de um problema de conteúdo.
"É um facto que o excerto referido não está correto e desde já informamos que vamos solicitar aos autores do livro a necessária reformulação", comunica a empresa.
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"Pretendia-se falar dos primeiros contactos, no final do século XV e início do século XVI, e não abarcar todo o 'decorrer da construção do império'. Infelizmente, nas décadas e séculos seguintes o comércio e sobretudo a ocupação enveredou pelo caminho de atitudes condenáveis, como a desconsideração pelas culturas próprias e a escravatura".
Pedro Schacht Pereira considera que o excerto está a "repetir mitos que foram difundidos durante o Estado Novo". Hoje em dia, dizemos, "'pessoas escravizadas', justamente para sublinhar que não há 'escravos', isto é, que a escravização é um ato político violento, não um estado natural", sublinha.
No seu entender, cabe à escola "investir no sentido crítico dos alunos, não na repetição acrítica de mantras como 'relações amigáveis'".