Empresas do setor das energias renováveis defendem que o país tem margem para crescer e pode mais do que triplicar a meta dos 300 MW.
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Empresas da área das energias renováveis oceânicas defenderam esta sexta-feira, em Viana do Castelo, que Portugal deve ser mais ambicioso na produção de energia eólica offshore, cuja meta nacional está atualmente fixada nos 300 MW até 2030. Na conferência "Energia Renovável Offshore Abre Novos Horizontes", em que participaram três ministros, do Ambiente, da Economia e da Ciência, investidores e outras entidades ligadas ao setor, afirmaram que o país tem potencial de crescimento e apelaram à abertura de novas concessões para atingir "até 1000 MW". O projeto eólico WindFloat, instalado há cerca de um ano no mar ao largo de Viana do Castelo, foi apontado como "referência internacional". E o município prepara-se agora para, com financiamento europeu e apoio do Governo, criar "um centro de experimentação" de energias renováveis oceânicas.
"Portugal está na linha da frente nesta atividade de produção de energia offshore e as empresas presentes nesta conferência solicitaram ao Governo que seja alargada a meta dos 300 MW e que devia ser aberto um concurso para mil MW [em novas concessões] para a costa atlântica, com muito interesse na envolvente de Viana do Castelo", resumiu o presidente da Câmara de Viana, José Maria Costa, sublinhando: "Todas as empresas disseram que era importante ampliar a ambição na área das renováveis".
No encerramento da iniciativa, que englobou vários painéis de reflexão sobre o momento que Portugal vive a nível de desenvolvimento de energias oceânicas, o Ministro da Ciência, Inovação e Ensino Superior, Manuel Heitor, declarou ser intenção deste Governo "continuar a apoiar e reforçar" o setor. "Esta é uma altura oportuna, porque estamos a começar um novo quadro de financiamento plurianual, quer ao nível do programa Horizonte Europa, quer ao nível dos fundos estruturais para Portugal e do agora Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)", disse o governante, considerando que a redução de custos de produção e dos impactos ambientais do atual sistema, abrirão caminho a "uma nova geração da energia offshore".
Referiu que, "com o sistema atual, não é economicamente viável, esta tecnologia por si", mas que, "nos últimos dez anos, o custo do MW/hora reduziu cerca de 145 euros, produzido à saída do parque, para cerca de 45". "É possível, num prazo de cinco anos, conceber energia offshore a cerca de 10 euros por MWh, portanto reduzir mais quatro vezes", adiantou, acrescentando: "O percurso desta curva de aprendizagem, juntamente com aquilo que tem sido a evolução da energia offshore, mostra-nos que estamos perante um enorme campo de potencial de desenvolvimento científico, tecnológico, mas também sustentável no médio longo prazo".
"O facto de sabermos hoje que esta energia ainda é mais cara que outras formas de energia não nos deve inibir e deve-nos encher de energia para poder fazer, incorporando outros desafios, pensando global", concluiu.
Em Portugal, o que está previsto no Plano Nacional Energia e Clima 2030 é que até 2030 a eólica offshore possa atingir os 300 MW.
Centro de experimentação em Viana
A criação de um centro de experimentação de energias renováveis offshore em Viana do Castelo, foi referida ontem como um projeto que irá alavancar o setor a nível europeu.
"Visto que, com o Brexit, a Escócia saiu da UE, a Europa não tem um local para testes de energias renováveis oceânicas. Todos os 'players' entendem que Viana do Castelo reúne condições para ter uma plataforma e um laboratório europeu", disse o autarca José Maria Costa, adiantando que o futuro "centro de testes internacional", se trata de "um projeto colaborativo que envolve universidades nacionais e centros de investigação internacionais". E poderá contar com financiamento do próximo QCA e do PRR.
"Acho que estão montadas as componentes necessárias para se avançar num projeto que faça caminho e que tenha uma ambição global de transformar esta zona [Viana do Castelo], não apenas numa zona de experimentação mas também de implementação de novos sistemas energéticos", declarou o Ministro da Ciência, Inovação e Ensino Superior, Manuel Heitor.