Portugal é um país mais coeso, quando se olha para a criação de riqueza, do que no início do milénio. Não porque as regiões mais pobres se tenham desenvolvido, mas porque Lisboa empobreceu.
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O primeiro Relatório do Desenvolvimento & Coesão, divulgado esta quarta-feira pela Agência para o Desenvolvimento e Coesão, analisou a evolução do país desde o ano 2000 e concluiu que, em 2016, seis das sete grandes regiões do país tinham uma riqueza per capita mais baixa do que em 2000. A exceção é os Açores, que subiu ligeiramente, em dois pontos percentuais (os dados têm como referência o valor médio da União Europeia).
Foi em Lisboa e na Madeira que o impacto da crise de 2008 se sentiu com mais força
A maior descida deu-se na capital. "É o empobrecimento e menor dinamismo da região mais desenvolvida que leva a uma maior coesão, ao invés de ser o enriquecimento das regiões menos desenvolvidas", refere o documento, que classifica este fenómeno de "afunilamento."
Desde o ano 2000, Lisboa tem crescido a um ritmo quase 50% inferior ao da média comunitária, o que "tem um acentuado processo de convergência negativa." De facto, foi em Lisboa e na Madeira que o impacto da crise de 2008 se sentiu com mais força. Também o Alentejo e o Algarve se afastaram da Europa.
Mas houve regiões a aproximar-se, durante os anos de crise: o Centro, ainda que de forma marginal, e o Norte cresceram mais do que a União, "tendo aparentemente resistido melhor ao período de crise."
Mais, olhando às regiões NUT III portuguesas, nota-se que as mais pobres conseguiram crescer mais do que as restantes. O documento salienta o Alentejo Litoral e o Algarve, que cresceram acima da média europeia, entre 2000 e 2015.
Uma explicação avançada para a perda de riqueza de Lisboa, e ganhos das regiões menos desenvolvidas, é o facto de, a uma fase de crescimento acelerado, se seguir uma outra, de menor capacidade para absorver investimento e, portanto, de gerar riqueza.
A "armadilha do rendimento médio"
Esta é também uma explicação para o facto de Portugal se ter afastado do resto da Europa, no que toca à riqueza, e de aparentar estar preso na "armadilha do rendimento médio". A economia portuguesa cresceu substancialmente quando começou a receber fundos europeus, mas o impacto da injeção de dinheiro vindo de Bruxelas foi perdendo força, com o passar do tempo.
É assim que a economia dos países que aderiram à União Europeia após 2004 (e que só nessa altura começaram a ser subsidiados) está a ter fortes recuperações, alguns inclusive ultrapassando Portugal.
Já Portugal comportou-se de forma semelhante à maioria dos países que já pertencem à União há mais tempo e cresceu abaixo da média comunitária (exceto a Alemanha, Irlanda e Luxemburgo, cuja economia continua a disparar).
"O país não conseguiu empreender uma convergência sustentada com os valores médios da União Europeia", conclui o relatório.