
Jacintos-de-água podem cobrir rios e lagos, impedindo a pesca e matando espécies
Paulo Jorge Magalhães / Global Imagens
Bruxelas entende que esforços são "insatisfatórios e insuficientes". ICNF já concluiu plano e aguarda por aprovação.
A Comissão Europeia vai avançar com uma ação em tribunal contra Portugal por falta de medidas de prevenção e de gestão da introdução e propagação de espécies exóticas invasoras. O Ministério do Ambiente garante que a proposta de plano de ação está pronta, mas os ambientalistas lamentam a demora.
O regulamento entrou em vigor a 1 de janeiro de 2015 e dava aos países um prazo de três anos para conceberem um plano de ação para lidar com as mais importantes vias de introdução e de propagação de 88 espécies exóticas invasoras que suscitam maior "preocupação" (ler exemplos na ficha ao lado). A Comissão Europeia explica que, no ano passado, notificou Portugal e outros países, sendo que alguns cumpriram as obrigações. Porém, os esforços das autoridades portuguesas, assim como os da Bulgária, Irlanda, Grécia, Itália e Letónia, foram considerados "insatisfatórios e insuficientes", pelo que decidiu instaurar ações perante o Tribunal de Justiça da União Europeia.
Contactado pelo JN, o Ministério do Ambiente adianta que a "proposta de plano de ação", elaborado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), "encontra-se finalizada" e será "submetida, em breve, a aprovação pelo Conselho de Ministros".
Impossível erradicar
Para Paulo Lucas, da Zero, "já passou tempo mais do que suficiente" e "é preciso ter forma de monitorizar e controlar" os animais e as plantas invasoras que constituem uma grave ameaça para as espécies autóctones.
Ao estabelecer prioridades e medidas, "deve estar associado um financiamento", para que "as entidades gestoras e quem está no terreno possa atuar" perante o problema, adianta Domingos Patacho, da associação ambientalista Quercus.
Elisabete Marchante, investigadora no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e especialista em plantas invasoras, considera que "tem havido um esforço grande em Portugal para combater as espécies invasoras, mas ainda está aquém do que é necessário". A especialista defende que se deve investir "fortemente na prevenção" e não apenas "tentar resolver [os problemas], quando as espécies estiverem estabelecidas".
"Já não conseguiremos erradicar as [invasoras] que estão dispersas e com grande presença no território, mas podemos controlar e diminuir as populações para níveis que não sejam tão problemáticos", explica, alertando que há várias invasoras em Portugal que "ainda não estão na lista" de prioritárias da União Europeia.
Aliás, de acordo com a Comissão Europeia, as invasoras são uma das cinco principais causas de perda de biodiversidade, causando prejuízos estimados em 12 mil milhões de euros por ano no território da União Europeia.
Exemplos de espécies invasoras da lista europeia presentes no território português:
Vespa-asiática
Introduzida acidentalmente na Europa em 2005, ataca as abelhas, reduz a biodiversidade dos insetos autóctones e afeta as atividades de polinização. Muitos apicultores registam grandes perdas de produção.
Lagostim-vermelho
Expandiu-se pelas massas de água doce e, por ser muito agressivo, tem impacto nefasto sobre outras espécies de lagostim, peixe e culturas de arroz.
Tartaruga-de-orelha-vermelha
São compradas em lojas e, quando crescem, largadas na Natureza, onde competem com os cágados nativos por habitat e alimento. São muito agressivas e colocam em risco o cágado-de-carapaça-estriada e o mediterrânico.
Jacinto de Água
Provocam grandes danos ambientais ao criarem um tapete na água que transforma o ecossistema ao ponto de afetar outras espécies nativas. Também impedem o seu uso para atividades lúdicas, pesca e rega.
Acácia
De origem australiana, tem vindo a espalhar-se por todo o país, mas sobretudo do sul. Forma povoamentos densos e altera o ambiente que a rodeia, impedindo outras plantas de viverem.
