Contrariamente à expectativa dos naturistas, no Dia Mundial do Naturismo que se celebra este domingo, não foi legalizada mais nenhuma praia em Portugal, para juntar às nove onde o nudismo já é permitido. Todos os areais oficialmente destinados a nudistas ficam a sul de Lisboa. Há, no entanto, várias zonas balneares por todo o país onde é tolerado.
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"Por parte das associações, não está a ser desenvolvido nenhum processo de legalização, mas as autarquias podem, por iniciativa própria, criar novas praias", disse, ao JN, Paulo Garcia, vice-presidente da Associação Alma Naturista. As nove praias onde é legal a prática de naturismo localizam-se todas a sul de Lisboa.
"É preciso criar espaços a norte e cabe às câmaras tomar a iniciativa e decidir transformar praias toleradas em praias naturistas", afirmou ainda. Sem estatísticas oficiais, as organizações naturistas acreditam que o número de praticantes está a aumentar e que deve ultrapassar os dez mil.
"Há muitos turistas que vêm para Portugal fazer nudismo e que, maioritariamente, se deslocam em autocaravanas e percorrem várias praias", referiu o responsável pela Alma Naturista. E continua: "A convivência entre naturistas e não naturistas é pacífica, sem conflitos. Se alguém, por alguma razão, se sente mais incomodado na praia, muda de lugar".
Nudez não é crime
Na praia, a nudez "não é criminalizada e pode acontecer em todo o areal, desde que não incomode as outras pessoas", salientou Garcia.
A Federação Portuguesa de Naturismo especifica que, desde Afife, em Viana do Castelo, a Cacela, em Vila Real de Santo António, existem dezenas de "praias toleradas", locais frequentados por nudistas e por outros banhistas. Dos cerca de 934 quilómetros de areais existentes na costa portuguesa, só 16 estão classificados como área naturista.
"Com zonas distintas de utilização, as áreas naturistas ficam, normalmente, a sul da praia que lhe dá o nome. Esta indicação não é uma regra, sendo apenas uma constatação", refere a Federação Portuguesa de Naturismo. Odemira e Almada têm duas praias classificadas cada. A expectativa da federação é que "outros lhes sigam as pegadas", sobretudo na costa a norte do rio Tejo.
"Os mirones estragam tudo"
"Sou naturista desde os anos em que vivi no estrangeiro e onde era muito natural estar na praia, na piscina e em alguns espaços turísticos sem roupa", recorda Ana Dias, 37 anos, residente em Gondomar.
Na costa portuguesa, Ana Dias prefere, "sem dúvida", as praias legalizadas na região Sul, onde o naturismo é legal, em comparação com as praias de "tradição" da região Norte.
"É uma coisa muito nossa haver mirones um pouco por todo o lado e isso estraga tudo", refere. Normalmente, não vai à praia sozinha e, entre a família e os amigos, "há quem faça nudismo, quem use fato de banho e quem faça topless".
"Encaro a vida com naturalidade em todos os aspetos e estar sem roupa na praia é algo natural, que me permite um verdadeiro contacto com a natureza", explica a banhista de Gondomar. Nos últimos anos, Ana sente que os banhistas já não ligam muito à presença de naturistas. Com exceção para os mirones.
"Há sempre um ou outro a olhar de forma incomodativa, mas acredito que são cada vez menos, porque o naturismo é cada vez mais aceite". Nas praias mistas, Ana Dias sente que os naturistas estrangeiros "são mais bem aceites" do que o portugueses.
"Já me aconteceu estar com um grupo de amigos estrangeiros e, quando outros banhistas me ouviram a falar português, olharam-me com estranheza como se não fosse normal uma portuguesa fazer nudismo", recorda.