Projeto apresentado ao Governo nos próximos meses, num investimento que ronda os 40 milhões de euros.
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A idD Portugal Defence, holding do Estado para a Defesa, pretende criar uma fábrica de munições de pequeno calibre, em Alcochete, num investimento que rondará os 40 milhões de euros. O projeto está concluído e vai ser apresentado ao Governo nos próximos meses. O objetivo passa por capacitar as Forças Armadas com este tipo de projéteis e exportar para países da NATO e marca o regresso de Portugal à produção destes explosivos.
O investimento, junto da unidade de desmilitarização da idD, deverá contar com uma partição do Estado entre 35 e 60%. A fábrica terá capacidade para produzir 50 milhões de munições por ano e vai criar 70 postos de trabalho. A informação é avançada ao JN por Ricardo Alves, presidente do Conselho de Administração da empresa pública cuja missão é promover políticas públicas para a Economia da Defesa.
Há falta de stock
Trata-se de munições de pequeno calibre, de 5,56 e 7,62 mm, utilizadas por todas as forças nacionais destacadas e pelos exércitos da NATO nas suas armas ligeiras, confirmou fonte do Exército português ao JN. As principais armas ligeiras ao serviço da armada portuguesa são, por exemplo, a SCAR-L em calibre 5.56x45 mm NATO e a SCAR-H em calibre 7.62x51 mm NATO. Estes calibres também estão presentes nas metralhadoras ligeiras.
"Há uma procura crescente muito grande por estas munições porque houve uma série de décadas seguidas em que não houve investimento e muitos países estão sem stocks. E é nessa procura que existe a intenção de montar a fábrica munições", referiu o dirigente.
A idD está a trabalhar com um parceiro estrangeiro que vai apoiar o desenvolvimento de conhecimento para a produção dos projéteis, embora o país disponha de mão de obra qualificada.
"O problema é que temos a lidar com explosivos e, portanto, exige segurança e é uma atividade sensível. Mas temos claramente pessoas qualificadas que, se tiverem formação, não terão dificuldades em lidar com o assunto. O parceiro estrangeiro que temos vai ajudar um pouco a fazer essa transição e a desenvolver o conhecimento do que é a produção de munições.", notou Ricardo Alves, recordando que Portugal já produziu este tipo de engenhos durante a Guerra Colonial.
Desejo do Governo
A verdade é que a produção de munições é uma ambição declarada do Governo. Nuno Melo anunciou, no ano passado, que já havia parceiros, localizações e modelos de negócio identificados. “É uma das áreas em que sabemos que a União Europeia toda, eu diria o mundo ocidental, é deficitária. A necessidade de se produzirem munições está identificada ao nível do Governo”, referiu no Parlamento.
Luís Montenegro também defendeu a produção de "armas e munições", desafiam os empresários portugueses a investir na indústria de defesa. O projeto está alinhado com o reforço em cerca de mil milhões de euros da verba para "investimento direto em aquisições de equipamento, de infraestruturas, de valorização dos nossos recursos humanos".
Destruir munições já é um negócio aproveitado
Portugal já faz parte do grupo de países que destroem toneladas de munições todos os anos. "As munições têm um ciclo de vida, como qualquer produto, e quando chegam ao fim do seu prazo de validade, o explosivo torna-se muito instável e tem que ser destruído", aponta Ricardo Alves, notando que ainda há material da Guerra Colonial que precisa de ser destruído. A atividade também é desenvolvida pela idD Portugal Defense, que destrói cerca de 14 toneladas de projéteis de vários tamanhos, na unidade de desmilitarização em Alcochete. O trabalho é feito com as Forças Armadas portuguesas, mas o objetivo é alargar ao mercado externo. “Estamos a estabelecer contratos, principalmente com os países mais próximos, para ver a possibilidade de prestarmos este serviço”, avança o responsável da idD.
Fábrica Braço de Prata foi desativada e virou museu
Durante a Guerra do Ultramar, Portugal produzia armas e munições que abasteciam as Forças Armadas. Era da Fábrica de Material de Guerra de Braço de Prata, em Lisboa, que saía o material de Guerra. A entrada de Portugal na NATO, em 1949, beneficiou a fábrica que atingiu os seus melhores anos durante a Guerra do Ultramar. Segundo a Câmara Municipal de Lisboa, existia uma produção intensiva de espingardas automáticas, morteiros, metralhadoras, munições e fardamentos. Lá para fora, Portugal também exportou equipamentos para a República Federal da Alemanha. Mais tarde, todo o equipamento da fábrica foi transferido para Moscavide e as instalações deram lugar a um centro cultural privado, em 2007.